quarta-feira, 25 de abril de 2018

ONDES ANDAVAS TU NO 25 DE ABRIL? LIBERDADE SEMPRE!

Aquela manhã de Primavera parecia ser igual a tantas outras. O sol nascia e punha-se como sempre fez. Cumpria a sua função de sempre que era iluminar sem juízos de valor tempos mais luminosos e outros mais sombrios. Aquela seria uma manhã luminosa para muitos e muitas que há muito, mas muito tempo esperavam. Haviam uns que nem mais acreditavam que alguma vez acontecesse amanhecer em liberdade. Acordar da longa noite da ditadura e do Imperialismo.

Naquela manhã a avó Rosária chegou lá a casa, antes dos meus pais saírem para trabalhar, com a noticia de que escutara na telefonia: o Movimento das Forças Armadas estava na rua e tinha tomado conta de tudo para dar um fora, um basta no governo fascistazão que andava ali a assombrar a vida das pessoas desde 1926!... E para a população manter a calma e não sair de casa. Olha.... Cá para mim eu devia estar no bercinho a coçar as gengivas para que os dentitos saíssem para fora, mas se eu me tivesse dado conta de tal acontecimento a tempo teria acionado o meu controlo remoto e voado dentro duma lata de leite em pó até ao centro de Lisboa. Repare-se no detalhe da lata de leite em pó como um indicativo da entrada sorrateira da lógica de mercado neo liberal. Os pediatras dizem às mães que o seu leite não é bom para amamentar a sua cria e assim as indústrias e suas multinacionais   entravam no até então rural, provinciano Portugal, que "orgulhosamente só" se mantinha como defendia e apregoava o narigudo do Tonecas Oliveira Salazar.

Sim, sou uma filha de Abril, uma menina de amanhã como o José Mário Branco cantava. Passados 40 anos, em 2014, a avó Rosária partiu para outro plano mesmo antes de Abril chegar. Partiu entre a sexta e o sábado de Carnaval daquele ano. Que inicio de ano tão marafado!... Em muitas situações me lembrei dela ao viver  num país tão desigual como o Brasil. Lembrei-me da sua condição de camponesa que vem para a grande Lisboa no final dos anos 40 com o marido e com duas filhas pequenas. Que embora sabendo ler e escrever não teve a oportunidade de ser professora primária como gostaria de ter sido. De muitas vezes ser olhada com preconceito por ser alentejana. Mas pelo que eu a conheço ela não estava nem aí para isso... A minha mãe estava. Não era para ela aquele lugar pequeno ao lado da capital com pessoas que não valorizavam os estudos, muitas delas nem ler nem escrever sabiam mas desdenhavam dos alentejanos. Hoje à distância só posso encolher os ombros para o preconceito, porque o preconceito é fruto da ignorância e precisamos de não absorver o que não nos pertence e seguir firmes no nosso caminho. Focar no que realmente é importante para o nosso crescimento e realização. Como tal, estou muito grata a todos que fizeram parte da minha infância e juventude e que me proporcionaram outras oportunidades que as mulheres da minha família das gerações anteriores não tiveram. Oportunidade de crescer com a consciência do que é ser explorador e explorado e não ter receio de falar disso, com a curiosidade de abrir e ler os livros da estante de casa e ler Fernando Namora, José Saramago, Jorge Amado, Garcia Marquez e outros. Ah! E se alguém achar que os meus discursos são isto e aquilo também volto a dar um Salve ao 25 de Abril que nos deu a oportunidade de reaver a liberdade de expressão. Já a democracia, mais os seu porta vozes... A esta altura do campeonato só posso me lembrar do sociólogo português Boaventurra Sousa Santos que nos chama a atenção para a democracia participativa ao invés da representativa. Mas essa dá mais trabalho e requer auto conhecimento, porque caso contrário os egos andam ali à trolitada. E a era da era da trolitada já deu o que tinha a dar. Oooooooommmmm  ;) <3 VIVA A LIBERDADE!!!

A Piu
Brasil, 25/04/2018

Como frase de ordem escrevo: O 25 de Abril possibilitou o curso da emancipação da mulher. Até então, a mulher só podia viajar com autorização do marido ou do pai- só para dar um exemplo... Esta é a minha avó que possibilitou junto com o meu avô a minha mãe estudar e a ter uma melhor condição de vida. E nós as bruxas voltamos para honrar as nossas ancestrais.


Que das armas saiam flores, cravos, que nos edificam como seres viventes dignos e respeitosos em relação aos outros seres viventes de qualquer pigmentação, cultura e nação. Independência para todxs.

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