segunda-feira, 1 de maio de 2017

PROSPERIDADE


Eu sempre que penso em trabalhador eu penso na minha avó. No exemplo de competência, humildade e também submissão. Há uns anos atrás, ainda em Lisboa, no tempo eu que eu ingenuamente achava que todos os antropólogos, sociólogos, cientistas sociais e políticos eram gente consciente com um olhar aberto e empático com a sociedade e/ou as sociedades e comunidades que estudam, eu tive um professor que afirmava com algum desdém: " É!... O Pierre Bourdieu é todo intelectual, Toda a gente quer citar... Mas ele veio da classe baixa." Ao inicio eu não entendi onde esse erudito ( ;) ) queria chegar com tal comentário. Achei que a coisa fosse mais profunda, tal como: alguém, cuja família que vem do campesinato, torna-se um pensador duma França que se diz democrática. Depois a ficha caiu. Ele desdenhava da capacidade de erudição do Bourdieu!!!! Que arrogância! Que provincianismo! Um badameco que provavelmente ninguém o conhece fora do seu meio académico português desdenhar dum autor conhecido mundialmente, quer concordemos com as suas teorias ou não!
A minha avó, como uma grande maioria das nossas avós ou bisavós, veio do campesinato. Isso não é vergonha nenhuma! É uma honra! Vergonha é vir duma família desonesta que ostenta a sua riqueza ganha às custas dos outros sem escrúpulos e acharmos que é normal e de salutar. Ninguém escolhe a família onde nasce, mas podemos escolher termos discernimento e também saber perdoar, sem beatice.
Eu não caio nesse papo furado de "fora com os patrões!". Eu posso escolher não ter patrões, para isso tenho de ser autónoma. Empreender no meu trabalho. Isso dá trabalho. Não é para todos. Eu conheço muita gente que quer ter patrões, que quer alguém para lhes dizer o que tem ou não que fazer. Ótimo. Beleza. Porque não? Desde que se respeitem mutuamente. Também conheço atitudes de preguiça: falta de pontualidade, falta de compromisso, fazer pouco ou nada para não se chatear. Porque para todos os efeitos o patrão é um papão. É como achar que não devo de cuidar da minha casa só porque não sou eu a proprietária. Normalmente quem age assim também não consegue ser autónomo, pois rege-se pela relação de "gato e rato" e não pela iniciativa de ser girafa, olhar mais longe e alcançar outra qualidade na relação de trabalho onde existem ou não patrões.
Para resumir um pouco, o paralelo que encontro entre empregado/patrão é mais ou menos o mesmo que entre artista/ produtor. Para dar tudo certo temos de valorizar o trabalho uns dos outros. Existem artistas que só exigem, desconsiderando o esforço do trabalho do produtor. Tem artistas que nem produtor têm. Nesse caso precisam de aprender a ser autónomos e estudar para serem produtores de si mesmos. Sermos patrões de nós mesmos é um grande desafio, assim como respeitar as diferentes funções é igualmente um grande desafio. Antes de tudo não sermos submissos à nossa preguiça em sermos autónomos, já que o sistema neo liberal está nos a empurrar para esse lugar de reinventarmos formas de trabalhar sem uso e abuso de outro ser humano. Cooperar uns com os outros. Esse é o paradigma. E para isso não precisamos de bandeiras e dogmas. Essas aí só atrapalham porque se baseiam em frentes de batalha para ver quem tem razão. Logo o diálogo, a empatia é escassa e até mesmo nula.
Resumindo e concluindo: Estarmos conscientes de nós mesmos permite-nos ter alteridade, empatia e trabalharmos com gosto, competência. Quantidade não significa qualidade. E a qualidade nas relações é o que nos permite sermos prósperos em todos os campos da nossa vida.
A Piu
Brasil, 10/05/2017

Foto de Ana Piu.
Nunca esquecer de onde viemos, onde nos encontramos e para onde queremos ir dá mais clareza no caminhar.
Foto de Ana Piu.
Uma destas mulheres poderia ser a minha avó nos idos anos 40.
Desenhos de prisão do Álvaro Cunhal.

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