sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

ALEGRIA

Depois veio aquela questão sobre a alegria. Se o povo brasileiro é um povo alegre. Sim, porque felicidade é uma coisa e alegria é outra.

Pausa breve para me concentrar na diferença entre as duas.

Mantendo o principio que a felicidade é um estado que se atinge através do olhar para dentro e respirar, focando no lado positivo da vida, independentemente das circunstâncias adversas. Focar no lado positivo da vida não deixa de ser uma redundância, pois ter vida já é algo positivo, embora algumas vezes descuramos esse facto. Mas quando a vida escorre pelos dedos aí sabemos o quanto ela é preciosa.


Voltando à alegria. Tenho vindo a fazer as minhas descobertas, talvez outros farão as suas. A minha, que pode ser mutante, flexível é que a alegria é um estado de entusiasmo. Um impeto. Esse entusiasmo não precisa de ser esfuziante, eufórico. Aliás, tenho algumas muitas dúvidas se manter tanta euforia é sustentável. Aliás, muita euforia tem odor a algo que se esconde mais profundo e quem sabe doloroso.

A primeira vez que aterrei no Brasil foi em 1996. Depois vagueei pelos cafundós brasileiros, desde florestas, areais, periferias e outras coisas que tais, entre  1999 e 2000. Só regressei em 2012. Muitas coisas aconteceram neste país e eu como estrangeira, apesar de me sentir desta terra, tenho uma leitura que é a minha de quem está perto e distante.

Das primeiras vezes que aqui estive sentia que atrás de uma aparente alegria havia uma tristeza, reprimida. Uma repressão que não identificava nitidamente com factos históricos, embora a discrepância social fosse mais que nítida. Escandalosamente nítida. Volvidos 200 anos de descolonização  colonizações  se mantiveram e  outras surgiram. E como e toda qualquer colonização, tenha ela os princípios que tiver, é uma imposição logo existe repressão. E como falar do último século brasileiro e suas comissões de verdade ainda é tabu para muitos e muitas resta-me concluir em aberto que a influência afro é significativa para essa "alegria" com e sem aspas, assim como o clima e a natureza maravilhosa, luxuriante. Sim! É uma dádiva do Cosmos ter este clima, esta imensidão de terra, e esta força da natureza. A mim dá-me energia, alento. Relaxa-me para sentir, pensar e agir:"Deixa para lá! Vai dar tudo certo! Se não for agora é depois!" Isso é um estado de alegria, de otimismo, mesmo que muitas vezes sem ser eufórico.

Agora definir um povo como alegre fica muito difícil, principalmente quando a violência esconde-se atrás de um pézinho de samba, dum pandeiro. O Brasil tem tudo para dar certo,"só" precisa de despir a velha roupa velha de coronéis, helicópetros e aristocráticos (?!) anéis e entre outros decibéis.

Escutar música é uma alegria. Quem dança e canta seus mal espanta. O Brasil é a terra da dança e do canto. Sejamos alegres então! Ora com os pés no ar, ora com os pés assentes no chão.

Ana Piu
Brasil, 19.12.2014

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