terça-feira, 4 de novembro de 2014

ALENTEJO PROFUNDO

Muita gente por aí fica indignada que hoje no Brasil as pessoas queiram participar democraticamente no rumo das suas vidas. Uma ou outra pessoa dessa muita gente são minhas amigas, das quais muito carinho e respeito sinto. Apesar dessas variantes de valores e visões do mundo outros valores nos unem, como do respeito, carinho, ajuda e amizade.

Umas vezes poderemos ser empregados, outras empregadores. A vida dá muitas voltas, porém não esquecer de olhar ao redor e calçarmos os sapatos dos outros não deixa de ser deveras importante.
Muitas vezes ponho-me a pensar se tivesse nascido em outro contexto social, cultural, politico e familiar como seria eu hoje a dia quatro de Novembro de 2014 às 15.53 do horário de Brasília. Como seria eu hoje acabadinha de receber um número que me permite numa validade de nove anos renováveis circular, trabalhar neste novo Continente, que antes de ser novo já era milenar. Já tinha a sua História e o seu povo ancestral.

Parte das minhas raízes estão no Alentejo profundo, celeiro ao sul de Portugal durante a noite escura do fascismo. Alentejo esse hoje desertificado, saturado cuja reformara agrária sorriu de leve antes da chegada da União Europeia. União essa que veio para esfrangalhar a pouca produção agrícola e industrial no país. Enfim, agora estou cansada. Não sei se hei-de festejar o facto de ter recebido o tal número que me desentrava a vida ou se dormir profundamente para depois acordar revitalizada. Porque todos nós merecemos ser felizes e vivermos dignamente do nosso trabalho e quem achar o contrário das duas uma: ou não vê o filme por inteiro ou não vê o filme por inteiro e concentra-se somente nos seus interesses. Há uns dias uma menina dos seus 14 anos disse-me: "Tu defendes todos porque estás numa situação mais vulnerável. Se tivesses numa situação melhor pensarias de outra forma." Respondi:" Aí é que bate o ponto! Pensarmos no coletivo só quando nos convém é igualmente egoísta como pensarmos só em nós quando achamos que não precisamos do coletivo. E muitos desses valores foram-me passados no seio familiar. Mesmo quando estamos bem não esquecer do todo."


Ana Piu
Brasil, 04.11.2014

obs: nunca fiz parte do Partido Comunista. Não sou comunista, embora subscreva alguns valores, filtrando os autoritarismos e dogmas dos mesmos. Porém, considero que para lá dos partidos existem as pessoas cujos valores e seus heroísmos merecem homenagens. Como tal, homenageio o Álvaro Cunhal, que advogado e filho de famílias abastadas, soube olhar o seu país e nomeadamente o Alentejo dos meus avós com um olhar humanista.







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