quarta-feira, 11 de julho de 2012

Um longo caminho a percorrer

When you are in your own way never say: I want to stop! I can’t anymore. (…) To live to close to myself.(…) Sometimes it’s a long way to be close to myself, but when I meet other people who want, also, the dream can be a reality.
(A Piu, apontamentos de ensaio. Setembro de 2011)

            Ora deixa cá ver notícias boas do meu país! Tralálá… hmmm Ora aqui está! Pois bem! A revista “Ípsilon”. Olha. Olha o festival de cinema de Vila do Conde. Já vi coisas muitos boas por lá há uns anitos atrás. Pena foi que quando voltei tinham-me gamado a minha velha mota, que para pô-la a trabalhar era preciso comer um bife (de tofu(!!) caros amigos vegetarianos!) Era sempre uma festa dar ao quico!... Mas acho que me fez muito bem às articulações da perna direita! Lá ía eu a açapar a 50 km/hora no máximo. Iuuuuu!!.... vrrruuum PUM!...

            Ah falam sobre curtas-metragens. Olha o amigo Sandro!! Sandro Aguilar para o público em geral. Bom, para um público especifico de filmes específicos. Pessoalmente não me sinto à vontade em tecer ilações em torno do trabalho do Sandro. Não me tocam, por isso não sei dizer se é bom ou mau; apesar da minha efémera passagem no cinema tenha sido a participação em duas curtas do Sandro, quando este ainda estava no Conservatório e eu na escola de arte dramática. Mas como espectadora comum, apreciadora de cinema, sinto hermetismo nos seus filmes. Mas não tenho argumentação intelectual para exprimir o meu parecer diante do realizador. Fico intimidada (não estou a ironizar. É a mais pura verdade) Bem, o que diz?

“ Há um trabalho continuado com alguns realizadores, apostas que são feitas e que na maior parte dos casos são consequentes. Não nos interessa produzir episodicamente, temos acompanhado mais ou menos os realizadores”. .Sempre sem uma visão “carreirista” das coisas. Quando produzimos o primeiro filme do João Nicolau, por exemplo, não sabíamos se havia ali uma carreira. Suspeitámos que sim, mas não tínhamos essa perspectiva estratégica.

            E pá! Agora sim estou aqui num processo de identificação “Sempre sem uma visão “carreirista” das coisas”. Será que esta visão que nos é comuns nós herdamos da nossa experiência primeira lá no grupo de teatro orientado pelo Victor, professor de filosofia da Escola Secundária da Parede, quando andávamos no 10º ano?

            Da minha parte essa experiência definiu o meu percurso, longe do carreirismo. Há coisas que nos dizem ou nos alertam em determinados momentos que são marcantes para o resto da vida. Sem determinismo. Espero! O Victor a dada altura diz:” As pessoas vão para o teatro por variadíssimas razões. Umas para se exprimirem, para se encontrarem ou para encontrarem um modo de expressão artístico; outras vão para arranjarem amigos e passarem o tempo, outras para aparecerem e terem muito sucesso e outras haverão que terão as suas razões mais íntimas. O que eu proponho é uma busca, um processo de trabalho. Não estou interessado em apresentar peçinhas”
Além de me ter identificado com a primeira razão de ali estar gostei da proposta de pesquisa. De work in progress.
            Criámos um grupo engraçado dumas oitos pessoas depois dos primeiros entusiasmos das 20 e tal pessoas que vieram ao início. Acabou por ser um grupo tertúlico, se é que se pode chamar assim. Íamos para escola durante as férias para pesquisar o fazer teatral. Encontrávamo-nos aos domingos e e trocávamos ideias e experiências. Confesso que eu ficava muitas vezes calada, pois os livros que eles tinham lido e os filmes que conheciam eu estava a leste, mesmo estando a par de algumas coisas. Depois uma amiga, estudante de música, tocava harpa e aí dava para fechar os olhos ou ficar bastante atenta ao dedilhar das cordas e à inclinação do instrumento. Depois havia o geniozinho do piano. A menina Adriana que além de ser uma exímia pianista escrevia umas coisas surreais que eu achava interessantes E num desses domingos, depois duma queda minha na acelera, fomos para uns escombros fazer uma fotonovela. Bestial! Eu fazia de apaixonada que coquetemente fugia do meu amado (o Sandro) em câmara lenta. Depois encontrámos um pacote vazio de chicletes e a foto seguinte era ele com o dito pacote na mão atrás de mim. A foto final era um beijo de happy end com o pacote em baixo no meio do beijo. As fotos eram tiradas pela Djanira que mais tarde seria a companheira e mãe dos filhos do Sandro.

            Ainda fomos vizinhos em Lisboa. Mas o vai e vêm citadino não nos fez mais próximos nessa época já com filhos.

            Nunca cheguei a ver essa fotonovela no papel, mas trago essas recordações e mais o dedo partido nesse dia que eu teimosamente não assumia que estava num estado lastimoso. Tal era a teimosia e o receio de informar à entidade paternal que tinha caído, que propus irmos ao cinema. Ver o quê? “A divina comédia” do Manoel de Oliveira. Que tormenta divinal!! Nenhuma razão para rir. Eu já não sabia se era do filme se era do dedo. Um suplicio!... Resumindo, abri o jogo e lá fui ao hospital no final dum dia cheio de emoções. Fotonovela seguido dum Manoel de Oliveira no seu melhor.

            E o artigo da Ípsilon continuava: “ (…) Isso é o mais importante: que as curtas consigam ser encaradas como um formato nobre, que permita um nível de experimentação e de afirmação muito rápida do universo do realizador que depois pode ou não derivar em longas-metragens.”

Give me five, man! Enobrecer uma arte ou linguagem considerada menor pelo mainstream e manter um nível de experimentação! Estou contigo nisso e na admiração e respeito por alguém que continua a fazer cinema, arte essa tão pouco incentivada por terras lusas como as outras artes. E o mais importante! A fazer o cinema em que se acredita.
Uma vénia para o senhor Sandro Aguilar!

A piU
Lx, 7 de Julho de 2012


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