Pedala pela cidade. Zás! Zás! Calcorreia ruas e ruelas. É Verão. Está um pouco cinzento, mas o verde dos parques dá alento. Berlim é das cidades mais verdes da Europa. Dizem. E ela pedala, pedala, pedala. Passa por paredes grafitadas, por edifícios ultra modernos com lojas sofisticadas. Uma pedalada e está no bairro multicolorido: Kreusberg. Cheira a Turquia, a Itália, a China, a Alemanha, a Índia. Cheira a fanzines. Cheira a mundo. Cheira a sonhos. Cheira a paz. Cheira a paz numa cidade que tantas vezes cheirou a morte, a segregação. Berlim é bela por isso, por essa capacidade de se reinventar.
Mais uma pedalada. Postdam. Outra pedalada. Alexander Platz. Frankfurt Alle. Volvidos alguns anos depois da queda do muro ainda é uma sensação forte pedalar por toda a cidade. Pedala e passa por um Mac Donalds embutido num edifício austero da ex RDA/DDR. Curiosa combinação. Pedala e passa por grandes escritórios todos envidraçados. Vai dar a uma grande praça onde estão uns grandes blocos. Parecem tumbas de diferentes tamanhos. É o memorial das vítimas do Holocausto. Estaciona a bicicleta. Entra. Mesmo tendo “visitado” Auschwitz não deixa de se impressionar. As lágrimas caem. Que a História não se volte a repetir. E se repetir? Como é? A paz não é um dado adquirido. Assim como a liberdade. E se uma mão de ferro se poisar nas nossas costas, primeiro muito ao de leve e depois vai apertando e apertando. E de volta à repressão, à proibição de pensar e agir, à difamação, à conspiração, à aniquilação. De volta a nada que rima com coração e com emoção.
“Que coragem tens em quereres vir para cá com as tuas filhas.”, diz o Jorge. “Que coragem é preciso ter para ficar em Portugal com elas.”, respondo-lhe co um sorriso.
O mundo é redondo e de repente já estamos a escorregar para o outro lado do mundo. Já não é Berlim. Escorregamos para esse lado do mundo que também já viveu momentos obscuros, hoje mais coloridos. Ainda bem. Apesar desse colorido ser pautado com o canto da sereia. A sereia canta:” Visa! Visaaaaa!” Mas só vai no canto da sereia quem não estiver atento, ainda para mais com o exemplo do que está a acontecer lá para sul das Europas. Bom… Nós só ás vezes só vemos e estamos atentos ao que nos convém. Normal(?) Ficamos mais sensíveis quando as coisas passam-nos pela pele? Será?
Que a História não se volte a repetir. E se se repetir? Quem não zarpou que zarpasse. Terá de ser assim? E quem não quer zarpar?
Mais uma pedalada e mais outra e mais outra. E a bicicleta levanta voo por cima dos carros, dos camiões, dos aviões e das constelações. E lá de cima ela deita a língua de fora às petrolíferas que são as principais responsáveis das guerras que daibolizam o pessoal de turbante e a todo o tipo de crise que isso acarreta.
Pedala. Pedala e pedala ainda mais. Pára. Descansa a cabeça. Fecha os olhos.”Não há paraísos, pensa. Mas há lugares que são mais respiráveis, em determinados momentos, que outros. E pergunta-se: será que todos os lugares têm a capacidade de se reinventarem?” Adormece a sorrir abraçada à bicicleta.
A piU
Br, Junho de 2012
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