sábado, 26 de junho de 2021

CAMÓNE! CAMÓNE!


Ali estávamos nós naquela grande aventura de escalar uma ribanceira bem ao lado da casa dos meus primos. Eu era a única menina daquela trupe entre os 5 e os 10 anos. A aventura era rodar o caminho estreito de toda a ribanceira. Sem cair!!!! Natural e obviamente. Lá embaixo um fundo buraco com silvas e pedregulhos. E nós ali tipo aventura dos cinco ou dos sete como nos livros da Enid Blyton. Só o cachorro é que não nos acompanhou. O Farrusco, aquele vira lata que eu tanto gostava de abraçar e certa vez um carrapato saltou do seu lombo para os meus costados e foi um vê se te avias!!! Um febrão que obrigou a minha mãe a ficar em casa e por isso escutou na rádio que uma escola ía abrir perto de nossa casa. Resultado: mudei de escola quando o februm do carrapato passou e eu me livrei de morrer uma vez mais, pois a asma era uma vizinha que sempre batia à porta dos meus peitos recheados de pulmões e também fazia das suas até se despedir de mim no ano seguinte ao febrão do carrapato ter feito um “ Buh!” na minha existência.
“ Camóne!”, era assim que falávamos entre nós durante as brincadeiras. Por exemplo a dos índios e caubóis, como nos filmes de domingo à tarde no canal 1. Nessa época toda a minha gente, a criançada, queria ser caubói e escalar ribanceiras. Na escola ensinava-se História do ponto de vista do “vencedor”. Do colonizador... Pois... Pois... Morreram as vacas e ficaram os bois, os boys, caubóis. Mas a alma e o espírito dos indígenas nunca morreu e é muito maior que a ignorância e ganância 'dus branquela'.
Catrapum! Ai! E agora! A asmática que fazia do muro do quintal um imenso piano para as suas brincadeiras solitárias caiu em cima das silvas. Ficou a modos que suspensa no ar com o buracum de pedragulhos, urtigas, silvas e outras ervas cortantes e picantes debaixo dela. Os caubóis conseguiram resgatá-la, sendo esta contemplada com uma coleção de arranhões nos braços e pernas.
Nessa época todos os dias o caramba da mocinha caía de cima dum muro. Muros não muito altos nem baixos, mas o suficiente para andar sempre com os joelhos feitos num oito. Também brincava com bonecas, mas só em casa. E quando foi para a escola dava aulas às bonecas e castigavas, além de lhes dar chapadas. Uma espécie de entendimento da pedagogia que se praticava naquela escola. AINDA BEM QUE O FARRUSCO LHE EMPRESTOU UMA PULGA PARA ELA TER UM BAITA FEBRÃO E A SUA MÃE MATRICULA-LA NUMA OUTRA ESCOLA!!!!
Ao longo da sua vida tivera outras escorregadelas. Fzzzzzzzzz Caiu umas duas vezes de moto. Uma delas olhara distraidamente para um mural, que vem muito antes da era do grafitti, para apreciar a arte do movimento dos trabalhadores a sua moto descomandou bem no meio da linha do elétrico, que aqui se chama bonde.
Mural da História: nunca te distrais para não dares um passo em falso, mas se te distraíres não tem problema! Levantas-te sozinha! Ou pedes ajuda a alguém. Se forem caubóis agradeces e avisas que os índios são gente muito massa que não é para ser inimigo, não.
Tchau! Agora vou viajar num balão voador feito com uma lâmpada gigante e uma grande cesta vazia de sorvete de manga. Gosto muito de mangas, principalmente quando se arregaçam para escrever textos de recordações docinhas e malucas.
A Piu
Campinas SP 23/06/2021
Foto: menina Ana, com o seu irmão Pedro e o seu primo João numa localidade suburbana perto da capital, no caso Lisboa. Uma Lisboa dos anos 70 a dar ares de Havana mas distante das brincalhotices das crianças seventis da Abóboda Texas city.
Pode ser uma imagem de 2 pessoas, criança, pessoas em pé e ao ar livre
Gosto
Comentar
Partilhar

Sem comentários:

Enviar um comentário