terça-feira, 27 de março de 2018

SER E NÃO SER: ' GRANDA ' QUESTÃO- po éticas acerca do teatro no Dia Mundial do Teatro

Teatro é encontro
sensualidade
O encontro é sensual
Teatro é a arte do encontro

Liberdade
Criação
Criatividade

Teatro é poesia
texto
voz
corpo
imaginação
teatro é imagem
pintura
em movimento
cinema
imagem
suspensa no silêncio do texto
é olhar
expressão
alegria
encontro
um caldeirão de misérias humanas,  transcendências, irreverências, subscrições
espaços em branco
coloridos inusitados

Teatro é trabalho braçal, pernal, intelectual ( mais vamos lá com atenção se não o público adormece no cadeirão! teatro é comunicação! quem não concordar, e há quem não concorde é pós pós moderno que chama o público mas só os amigos assistem, porque ninguém mais se sente contemplado no imaginário labirintico do artista performático)


Teatro é dedicação
mergulhos
formação
profissão
( lá vai parte didática para quem acha que é só subir à cena e ter jeito e desenvoltura como quem canta em frente ao espelho lá de casa ou faz umas macacadas aos 8 anos em frente aos amiguinhos durante a hora do recreio. É um começo. O meu, por exemplos. Em criança eu cantava com a minha voz cristalina entre o espelho do lavatório e o espelho do armário como se olhasse para as câmaras. Também dançava Bolero de Ravel cheia de sentimento em frente ao sofá da sala que era a grande plateia, tal qual Nijinski.  A cristaleira da sala nunca foi ao ar por sorte ou precisão dos movimentos entre o ballé clássico, o expressionismo alemão e o melodrama).

Teatro é prazer. Punto.
Para quem o tem. Quem não tem prazer, dificilmente vai possibilitar que o público tenha esse dito e fundamental prazer.

Ninguém nos pediu para fazermos teatro
mas nós fazemos.
Teatro é desarrumar a sala de jantar

Teatro de vez em quando é não jantar,
mas isso é uma crença limitante que urge libertarmo-nos.
A arte pode e deve ter lugar na sociedade
E ser dignamente remunerada.

Teatro é reesignificar a existência,
dar umas passadas
para olhar de longe e de perto esse grande mistério que é passarmos por aqui e voltar ao pó cósmico

Teatro é ritual

Teatro é arte
e sem arte o que andamos por aqui a fazer?
nhé nhé nhé
Andamos só por que sim?
nããããã

Viva o teatro! A música! A pintura! A dança! O cinema! A escultura e tudo e tudo.
Teatro é o grande encontro entre as artes.


Viva o teatro que nos torna mais verdadeiros e transparentes! Teatro é poesia. É o para lá do lá do lá do lado de cá e acolá.

EVOÉ!

A Piu
Br, 27/03/2018 ( do mundial do teatro)


sexta-feira, 23 de março de 2018

SINAIS DO ESPÍRITO

O beija-flor visita moradas de espíritos relâmpagos. Quando é visto, inspira boas idéias e diz que é hora de semeá-las. O beija-flor foi a primeira forma que Namandu, o Grande Mistério, assumiu para revelar-se.

JECUPÉ, Kaka Werá " A terra dos mil povos, história indígena do Brasil contada por um índio", Ed. Fund. Peiropólis. SP: 1998.
A visão de mundo da tradição tupy pode servir de semente e inspiração para pensarmos em gerar um novo modelo de sociedade em muitos aspectos, inclusive a gentileza entre seus indivíduos. A começar pela estrutura social não hierárquica e com ênfase no cooperativismo.

in: http://maisgentileza.com.br/a-visao-de-mundo-da-tradicao-tupy

A arte de ler os sinais através do movimento dos pássaros, dos ventos, dos rios e do fogo é para o povo indígena a maneira pela qual a Mãe Terra conversa com o ser humano. Essa fala silenciosa faz parte do caminho do coração.
JECUPÉ, Kaka Werá " A terra dos mil povos, história indígena do Brasil contada por um índio", Ed. Fund. Peiropólis. SP: 1998.

Quando a Terra e as leis da natureza cósmica foram criadas, os anciães da sabedoria fizeram uma roda e narraram diante de uma fogueira, de modo que todo o fogo gravou a memória todas as leis e o calor da sabedoria dos anciães. Por isso, quando uma fogueira se acender e um círculo de pessoas se unir em torno do fogo, as leis serão aquecidas novamente no coração. 

JECUPÉ, Kaka Werá " A terra dos mil povos, história indígena do Brasil contada por um índio", Ed. Fund. Peiropólis. SP: 1998.




RAIOS E CURISCOS! TENHO NO OLHO UM CISCO!- serie: o pescado mora ao lado


Good tinha dois olhos enormes, tal qual lobo mau. " É para te ver melhooooor oooor oooor ooor!" Ecoava o seu vozeirão pelos ceus afora. Enquanto com o vento de tal brado as barbas, que iam ate ao umbigo, enrolavam-se no pescoço criando um dread momentâneo com o cabelão.
" Nem mais um passo! Se não ao ao ao, não ao ao habitarás o reino dos céus eus eus. Amaras quem prometeste fidelidade e não cobiçarás mulher nenhuma que seja do teu companheiro, camarada, amigo, irmão ão ão ão.
Cabisbaixo o homem olhou de esguelha como quem não quer a coisa. Viu um dos "oo" do Good cair por terra. Ficou God. Assustado com tal facto ainda se surpreendeu mais com a possibilidade de o God o chamar de anarco sindico, por conta do "companheiro", ou komuna, por conta do " camarada". Para todos os efeitos, segundo o Good que agora era God, todos somos irmãos por isso ser amigo é uma consequência natural e saudável da irmandade.
O homem olhou para o chão, para o lado, fechou os olhos, olhou para si mesmo. Meteu as mãos mornas no coração. Quando olhou para cima viu que não havia ninguém atrás das nuvens. " Deve ter ido beber água o Gooooood."- pensou - "quer saber?!... Eu sigo o meu coração! A minha verdade interior que se move pela paixão e amor vindo desse músculo cardíaco! Qual absolvição qual quêAAAA! O bixo homem tem a mania de inventar pais castradores para viver no medo e não no amor! Zut! EU SOU EU desde a terra até ao céu! O que é É.
A Piu
Br, 23/03/2018

quarta-feira, 21 de março de 2018

A SAGRAÇÃO DA MULHER PALHAÇA- breves (?!?!) considerações duma palhaça portuguesa residente em terras tropicais

“Começar de novo e contar comigo vai valer a pena ter amanhecido. Sem as tuas garras sempre tão seguras. Sem o teu fantasma. Sem tuas loucuras” (Ivan Lins)



Falar de acerca de humor significa falar acerca das nossas emoções. Rir é um exercício para compreender o sentido da vida. Falamos do quê quando pensamos o humor, a mulher e a mulher palhaça? Rir é universal, o humor é local mas pode ser universal, também. Rir é um bom exercício para relaxar e relativizar os nossos medos e as nossas crenças mais profundas. Até ao momento é um grande desafio, no mundo inteiro, ser palhaço e palhaça como escolha de vida. Um bom palhaço é um bom ator não é necessariamente um bom palhaço, mas é uma ótima oportunidade mergulhar nesta linguagem. O estado do palhaço é um estado de graça. Ter graça é ter piada, charme. Neste sentido ser engraçado é ser charmoso. Quando estamos alerta, em prontidão, nós estamos em estado de graça.
Estar em cena é estar de corpo e alma e também com o espírito. O nosso corpo é a nossa ferramenta, assim como a nossa voz. Podemos usar ou não a voz, mas o corpo deve estar presente. Nunca assisti a nenhuma apresentação onde o palhaço ou a palhaça estivessem ausentes da cena. É uma ideia, mas nesse caso a proposta é outra, visto a linguagem de palhaço contemplar a relação, o olho no olho que cria empatia. Estar de corpo presente é respirar. Quando sabemos respirar nós ficamos disponíveis para apreender e sentir. Damos espaço para o acontecimento. Essa prática é espiritual. Enfim, a questão da espiritualidade é bastante profunda, mas temos de começar por algum lugar para pelo menos termos o propósito de sermos melhores seres humanos. Para sermos melhores seres humanos, plenos e inteiros, podemos e devemos exercitar essa musculatura subjetiva e sutil ao qual denominamos de espírito. Logo temos de aprender a respirar para sentir, a nos silenciarmos para escutar, a parar para observar. Focar na nossa espiritualidade é focarmos em nós mesmas, o que nos convida a nos auto conhecermos gradualmente. O auto conhecimento é a sabedoria de lidar com aquilo que nós somos, as nossas vulnerabilidades, os nossos exageros, as nossas neuroses e brincar com os mesmos. Rirmos de nós é curativo, liberta dor.

A comicidade feminina, quem quiser ir por esse caminho, abre-nos portas para rir do que nem sempre é agradável e ao limite agressivo. Rir de nós é pacifista e emancipatório. Rir do outro, diminuindo-o sem que haja uma relação empática estabelecida, é violento. Rir da violência a que muitas vezes somos sujeitas ou sujeitamos outrem é um desafio, pois requer honestidade, capacidade de desconstruir as nossas misérias e muita paz de espírito. E essa paz de espírito adquire-se com a espiritualidade. Redundância. Isto é, por miúdos, adquire-se com a prática meditativa. Rir da violência, com o objetivo de erradicar a mesma, requer sabedoria, delicadeza e coragem. Como rir da violência doméstica? Como rir com leveza do assédio moral e físico ao qual podemos estar sujeitas no nosso dia-a-dia, seja por parte dum desconhecido ou desconhecida ou duma pessoa próxima que ao limite depositamos a nossa confiança? Como rir da pobreza, da exploração, do genocídio dos povos indígenas no continente Americano, por exemplo? Aí está o desafio! Como rir de algo que nos fere sem perpetuar sentimentos negativos e sim de alteridade, de revolução interior para agirmos no mundo com mais leveza e amorosidade? Sem uma prática efetiva, a teoria sobre a revolução interior é um grandessíssimo clichê recheado de baboseira. Abraçar a paz e a luz é enfrentarmos a escuridão, acolher e cuidar com sensibilidade as nossas sombras. Não há luz sem sombra e a grande sacada é dançarmos patética e poeticamente com essas nuances de luz, essas ambiências do ser e do estar. Dilatar as nossas contradições, manias, medos com amorosidade irreverente é uma doação que podemos denominar de sagração da mulher palhaça.

Tenho-me questionado, de há uns anos a esta parte, acerca de corpo e gênero na arte da palhaçaria. A comicidade feminina, com foco no arquétipo do palhaço, é algo relativamente recente. Assim como refletir acerca dessa especificidade no contexto teatral e circense em grupo, passando a ser este um movimento mais amplo e cada vez mais sólido e com visibilidade com o passar do tempo. Esse movimento foi iniciado com as Marias da Graça no Rio de Janeiro. Hoje outras mulheres palhaças, por todo o Brasil tomam a iniciativa de criar encontros, mostras e festivais consagradas à comicidade feminina. Há pelo menos seis eventos com visibilidade nacional e internacional que acontecem em várias cidades e Estados. No Rio de Janeiro “Esse Monte de Mulher Palhaça”, em São Paulo “Encontro Internacional de Mulheres Palhaças”, em Brasília “ Festival Palhaças do Mundo”, em Porto Alegre “Mostra a Tua Graça Palhaça”, em Recife, em Belo Horizonte “Festival Palhaça na Praça”, em Chapecó “Palhaçaria Feminina”, entre outros.
É um clichê escrever que hoje as mulheres estão a ocupar um espaço considerável em muitas áreas da vida pública, nomeadamente nas artes cênicas com especificidade na palhaçaria. Porém, não deixa de ser importante sublinhar esse fenómeno social, assim como relembrar que em muitos contextos sociais bem perto de nós a liberdade da mulher é restringida e esta. Infelizmente, é alvo de abusos e maus tratos tanto num ambiente doméstico como profissional. E esse abuso de confiança é transversal a idades, meios socio e econômicos e culturais. Talvez seja esse o principal motivo, que agrega outros, para que haja uma necessidade cada vez mais urgente das mulheres no Brasil se mobilizarem para se emanciparem. Escrevo “talvez”, pois como portuguesa ainda estou tentando entender as semelhanças e diferenças de todo este processo emancipatório feminino em curso desde há umas décadas até à atualidade. As mulheres estão-se organizando em várias frentes para se afirmarem efetivamente como sujeitos sociais, logo históricos. Assim, as mulheres sentem que não estão sós nesta conquista pela autonomia não somente financeira, como emocional. Esse sentido de pertença é de extrema importância, pois firma esse objetivo de conquista total de autonomia e reconhecimento.
A visibilidade das mulheres, tanto na literatura como nas artes no geral, tem ganho expressão desde meados do século XX. Todavia, a visibilidade das mulheres autoras da sua própria história, com a sua própria visão de mundo colocada em palco, conquistando uma autonomia no meio artístico e no mercado de trabalho, é algo que com muito boa vontade podemos estimar em uns quarenta anos de existência.
A palhaçaria feminina e os encontros que daí surgem servem exatamente para podermos refletir acerca de como nos enxergamos enquanto mulheres, cidadãs e artistas.
A cultura do corpo, enquanto objeto apetecível e consumível sexualmente, está muito presente no contexto brasileiro. Essa cultura é construída, difundida e vendida pelo principal canal televisivo. É uma imagem que se vende para o mundo inteiro. Porém, há um histórico que vem antes mesmo da era televisiva. O Brasil tem uma herança colonialista e esclavagista ainda bastante visível. Esta herança manifesta-se nos corpos das mulheres, como estas se exprimem, naturalizando uma conduta estereotipada que reproduz relações de desigualdade. A importância que se dá ao corpo e o apelo sexual, fruto disso, é naturalizado, tanto nos homens como nas mulheres. Essa naturalização hereditária do desejo colonizador foca-se na satisfação imediata de desejos fugazes coreografados com trejeitos televisivos, tais como boquinhas, espasmos, posturas coquetes muitas vezes explicitas são a reprodução de uma mentalidade máscula dicotómica onde há a presa e o predador. Não é de espantar que existe a cerveja brasileira “ Devassa” com um corpo de mulher igualmente bebível. O que é instigante observar é a naturalização desse padrão de comportamento por parte das mulheres; ao ponto de adotarem esse mesmo padrão, colocando o homem no centro duma disputa em que o ego do mesmo inflama e a dúvida sobre o nível de auto estima das envolvidas se levanta. Por outro lado, sendo eu portuguesa, nascida no final do fascismo, seis meses antes, devo lembrar que as mulheres que nasceram e cresceram neste regime dependiam dum modo geral da boa vontade do marido, do pai ou de outro homem de quem estivessem dependentes para serem autorizadas a viajar; além de serem mal vistas e em muitos casos escorraçadas por se divorciarem. Umas não podiam trabalhar e em alguns casos cuidarem da sua própria imagem e beleza exterior era desprezado e estigmatizado. Em suma, as suas liberdades eram bastante acanhadas e assumir o desejo e a libido era coisa de devassa. Isso hoje não é assim, ou esperemos que já não seja, mas a repressão sexual ainda é algo que não está resolvido completamente. Pois já nem se trata de fazer ou deixar de fazer, às claras ou às escondidas, mas de tentar entender com a alma e o espírito em que patamar colocamos o desejo e prazer como algo emancipatório.

Todas nós sabemos, ou deveríamos saber, que essas liberdades reprimidas vêm mesmo antes do fascismo do Estado Novo. A Igreja Católica foi e tem sido a principal responsável pela condição da mulher ainda não se ter completamente emancipado. Mesmo que esta hoje não atue explicitamente o nosso padrão de recusa da libido como algo natural, saudável, libertador e pleno está no chip kármico. O karma não é senão um padrão ou vários padrões de comportamento aprisionantes, logo limitados que não promovem felicidade e que passam de geração em geração. Como o poeta português José Afonso canta: “Há quem viva sem dar por nada, há quem morra sem tal saber.” Desenvencilharmo-nos dos karmas é um dever que temos para com nós mesmas, para com a Humanidade, para as gerações seguintes, assim como para o planeta. Alguém que não traz dentro de si amor-próprio pode-se tornar alguém altamente destrutivo, já não falando que é uma pessoa triste e deprimida.

Pessoalmente, eu tive a sorte de crescer em democracia. Sim, é uma questão de sorte o lugar e a época em que se nasce e cresce. Principalmente estar livre dessa nuvem obscura de fascismo com a tríade “ Deus, Pátria, Família” como pano de fundo. Haverá explicações isotéricas para vivermos em determinada época e contexto, mas eu não sou competente para as dar, correndo o risco de me tornar uma ‘ isso histérica’. Não vou escrever que cresci em plena democracia, pois esta sempre andou aprendendo a caminhar, umas vezes mais comprometida que outras. Hoje, se não estivermos alerta, as liberdades conquistadas a punho podem ter um retrocesso.

Lidarmos com liberdade e amorosidade com o nosso corpo e desejos aprende-se com essa prática de auto conhecimento, que se dá através da meditação, da expressão criativa. Seja esta através da escrita, da pintura, da dança, do teatro ou outras formas de nos conhecermos profundamente para nos desenvencilharmos dos velhos padrões embutidos de avó para mãe e de mãe para filha. Olharmos para dentro de nós permite-nos aceitar quem nós somos e confiarmos no nosso potencial com humildade, mas com o devido brilho que nos faz avançar e crescer sem necessitar de cairmos em comparações, muito menos em competições. Quando nos comprometermos a nos superarmos a nós mesmas, seja a nível pessoal como artístico, ficamos felizes que outras companheiras e companheiros estejam nesse caminho. Este caminho é profundamente belo e instigante. É estimulante caminhar junto sem recear a solitude. A solitude é capacidade de caminhar com autonomia, sabendo que não estamos sós. Juntas e juntos somos mais! Muito mais! Considero importante ressaltar ainda que existem homens que estão interessados nessa consagração da comicidade feminina como arquétipo da criação, criatividade e despojamento das velhas relações de poder que são risíveis, porque absurdas e desnecessárias. Dispormo-nos a alcançar o nosso Eu Maior não nos coloca num lugar aborrecido de não ter mais nada para ir e rir, pois atingimos a perfeição e a harmonia. Achar isso já é risível. Respirar e praticarmos meditação que nos leva a uma consciência cósmica, a uma consciência que está muito acima das instituições religiosas e relações de poder entre seres viventes. Uma consciência de que somos tudo e não somos nada. Que fazemos parte dum Todo que muitas vezes não sabemos explicar com o nosso intelecto, com o nosso racional, mas sentimos quando estamos conectados com a energia da lua, do sol, da terra, das plantas. Isso é uma consciência ancestral que muitos povos indígenas ainda têm e que o Ocidente tem desprezado.

Quando estamos livres das nossas próprias prisões internas, logo emocionais, somos mais espontâneas, leves, mais livres para brincar e rir e transformar isso em arte. A espiritualidade é sensual e sensacional, pois podemos redescobrir a nossa libido, o prazer de ter o corpo e o comportamento que temos livremente porque somos únicas e únicos dentro duma comunidade. A liberdade consciente é um imenso manancial de possibilidades em que rir estará sempre incluído. Porque o riso liberta-nos do nosso próprio Ego mesquinho e tirano, possibilitando-nos o acesso ao nosso Eu Maior alegre, corajoso perante os obstáculos e frustrações e pontual. O Eu Maior é a nossa essência, a nossa espontaneidade e discernimento, a nossa calma e prontidão em agir num estado de leveza e brincadeira. Em suma, estarmos em estado de graça é recuperar a nossa criança livre que faz malabarismo com o consciente, subconsciente e inconsciente. E isso requer a prática do auto conhecimento. Melhor palhaça melhor, ser humano que com sabedoria pratica sustentabilidade emocional. Nós só podemos levar alegria e dar amor aos nossos interlocutores, ao nosso público, quando trazemos dentro de nós essa alegria de ser e estar e esse amor de trocar.

Resumindo e concluindo, rir de nós mesmas ajuda-nos a encarar os nossos tiques sociais, que podemos definir como karmas que passam de mãe para filha . Esses karmas, padrões de comportamento são construídos numa relação de dominação. Logo, não igualitária. São vícios de relação com o mundo interior e exterior. A liberdade não é um vício. A liberdade é termos a capacidade de sair das gaiolas que muitas vezes nós criamos para nós próprias. Rir como ato de desconstrução de ideias feitas sobre nós e sobre o ‘outro’ contempla desconstruir a ideia de corpo, de gênero e espiritualidade. Desconstruir a ideia de sex appeal, com base na gostosona poderosa que é um constructo duma sociedade consumista de olhar no lucro e satisfação rápida e descartável da líbido. Desconstruir a ideia de liberdade sexual, em que se confunde amor livre com libertinagem. Sendo que a libertinagem vai ao encontro da lógica acima descrita: consumo rápido e descartável. É igualmente, a disponibilidade de desconstruir a ideia de emancipação. Por exemplo, a realidade onde nasci e cresci, que é a de uma portuguesa nascida nos anos 70 pós revolução anti fascista, a mulher não desenvolve o seu poder de sedução, não mergulha tantricamente falando na sua líbido. Se por um lado acha que não tem que se submeter ao homem. Por outro lado, traz ainda o pudor católico secular de assumir a sua líbido na plenitude. Não esquecendo que na época da expansão marítima muitas das mulheres portuguesas eram sujeitas a envergar um cinto de castidade, cuja chave elas não tinham na sua posse. Assim sendo não perco a oportunidade de ser sarcástica, irônica: talvez seja por isso que nós, portuguesas, temos a fama de chorar muito em frente ao mar cantando o fado. Já no Brasil, na mentalidade patriarcal que ainda vigora, o corpo da mulher é valorizado como mais uma aquisição, que pode ser comparável a uma barra de ouro ou uma extensão de território, fruto dum histórico colonialista e esclavagista. No meu ponto de vista, é mais que tempo de nos libertarmos de tudo o que nos impede de nos assumirmos como cidadãs, mulheres, artistas, palhaças com desejos e amor-próprio. Como tal, autónomas e em coletivo podemos abraçar essa causa que é: nós juntas somos mais sem competição, porque trabalhamos para sermos competentes no individual e no coletivo.

Ana Piu
Brasil (texto escrito em 02/05/2017 e publicado em 21/03/2018)

Ai fiu fiu é um sempre um fiu fiu. Mais fiu fiu, mas sem coisificar. Mulher 'num' é objeto. 'Xim'?
Primeiro Encontro de Palhaças e Circenses do Vale do Paraíba.

O nosso maior fantasma e carrasco somos nós mesma. Inteiras em equílibrio duma só perna ou das duas podemos num movimento de arte marcial o que não nos pertence ou não nos pertence mais.Foto: Estúdios CarbonoAna Piu in Festival Palhaças do Mundo Brasília/ Brasil 2017
A sensualidade do bigode é poder rir, brincar dos esterótipos a que de vez em quando podemos estar sujeitas. Quem nos masculiniza para nos ridicularizar nós rimos com boquinha de beijinho. Chuac chuac. E relembramos: honrar as nossas mães e avós é honrar a existência de todo e qualquer ser vivente.
Primeiro Encontro de Palhaças e Circenses do Vale do Paraíba.





segunda-feira, 19 de março de 2018

O PECADO NUNCA MOROU AQUI. QUEM O INVENTOU QUE O DESINVENTE!#

pintora brasileira: Rosina Becker do Valle
Adão e Eva antes do Pecado


Quando as asas bateram, os ventos passaram a existir como mensageiros:
Quando sopram de sul: uma aventura inesperada, um rumo não previsto na caminhada.
Quando sopram de oeste: o que tem que morrer morrerá.
Quando sopram de norte: a clareza da jornada com proteção dos ancestrais.
Quando sopram de leste: a fortuna, o início.


JECUPÉ, Kaka Werá " A terra dos mil povos, história indígena do Brasil contada por um índio", Editora Fundação Peirópolis, SP: 1998.

# Titulo: A Piu

sexta-feira, 16 de março de 2018

MARIELLE! PRESENTE!

Há dias atrás,  uma recente parceira de andanças que por acaso ( os acasos existem?) tem a pigmentação mais escura e o seu cabelo é um black power que eu não me importaria de ter diz-me assim, parafraseando: " Nós só prosperamos quando reconhecemos a nossa mãe como geradora da nossa vida e agradecemos essa oportunidade que ela nos deu, assim como as nossas avós e também o nosso pai e a sua linhagem." Olha só! Uma coisa tão óbvia, mas que por vezes esquecemos de lembrar! Mas daí ainda me veio um outro 'insight": Claro! A Humanidade está doente porque não honra a mãe natureza! Não honra a feminilidade que todos trazemos dentro de nós. Não honra a maternidade na plenitude. É isso! Espezinha a fonte de vida e criação! Não reverencia a vida com leveza, gratidão, respeito e essas coisas todas que tem a ver com ética.

Por falar em ética! Na infância lembro-me de ouvir umas piadinhas um bocado (?!) parvas sobre o Samora Machel ( presidente da República de Moçambique pós 1975) e sobre pretos- passo a expressão. Andei numa escola fundado por aqueles que voltaram para Portugal na independência das ex colónias portuguesas em África. Eu faço parte da primeira geração que teve a sorte de nascer e crescer no pós fascismo e descolonização. Brrrrrrrr fascismo..... Bilhaque! Caria! Fascismo nunca mais! Escusado será dizer que a minha geração foi contemplada com a liberdade de expressão, embora até hoje nos infantilizem. Aqueles que alegam ter feito a revolução, mas muitos não se aguentaram à bomboka e hoje ou são os burguesões barrigudos mas fixes porreiro pá ou são na mesma barrigudos com as suas utopias meio que amarguradas como se andassem o tempo todo a chutar um pedaço de muro de Berlim para se certificarem que a era do Estalinho acabou. Voltando aos "pretos'. Também me lembro na minha terra natal ouvir: " Oh preto! Vai para a tua terra!" Essa é "boa". Uns gajos que andaram 500 anos a chafurdar na sua ganância, boçalidade, avidez na terra dos ditos "pretos" e "vermelho" tem o descaramento de falar isso. Mas há muito brasileiro por aí, descendente desses mesmos que ele diz que foi colonizado, que tem a mesma postura e age brutalmente.

Voltando, então, ao Brasil. Muitos desses que foram enxutados de África pelas vicissitudes da Independência e suas ideologias ou foram para Portugal, ou outros países ou foram para o Brasil. Isto em plena dita dura tropical. Para todos os efeitos o colonialismo e a dita dura nunca acabou aqui. Olhai a PM atuando indescriminadamente na sociedade civil. Colonialismo esse perpetuado pelo próprio povo branqueado, mestiço ascendendo ao branqueamento.

Há dois dias atrás, antes da fatalidade de Marielle Franco, vereadora do Rio que foi baleada junto com o seu motorista, houve uma aula sobre democracia no Brasil e o golpe de 2016 e suas censuras. Essa aula acontecei no IFCH ( Instituto Fabulásticos dos Cabeçones Homéricos) ahhhhhhhhhhhhhh não poderia perder essa oportunidade de caçoar dos ifichianos da filosofia e ciências humanas. Eu também estive lá! EU ESTIVE LÁ! ( como diziam os ex combatentes  e sobreviventes portugueses na guerra em África). Na verdade não fui a essa aula. Ufa.... Estou noutra. Perdi a tesão de ouvir teóricos da democracia, feminismo, alteridade e outras coisas lindas mas que ficam pálidas sem pulsação quando discutidas na fogueira de vaidades e sem humanismo e solidariedade efetiva. Blá blá blá zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz. Prefiro ler um livro para me inspirar. Sei lá!

A Marielle era socióloga feminista ativista e negra. Isso é uma grande pedra no sapato para os perpetuadores de lógicas oligárquicas cafonas, patriarcais e escrovocratas.

MARIELLE! PRESENTE!


A Piu
Br. 16/03/2018


quarta-feira, 14 de março de 2018

BIG GOD ON

Nela mando eu e ela manda em mim. Somos uma só nesse todo cosmicómico. — em Primeiro Encontro de Palhaças e Circenses do Vale do Paraíba .
Eu uso Restaurador Olex e sabonete Lux. E você?— em Primeiro Encontro de Palhaças e Circenses do Vale do Paraíba .

Foi você que pediu um Porto Ferreira? — em Primeiro Encontro de Palhaças e Circenses do Vale do Paraíba .



Com um mustache preto nunca me comprometo com a sensualidade e também com a identidade. Sem um bigoucska algo falha na composição do todo latente e adjacente.
Piu, Ana " Breves considerações acerca do in e do iã ã" ed Avã garde SP 2018



segunda-feira, 12 de março de 2018

A (IM)PONDERÁVEL LEVEZA DO SER*

Enfim, voltando à vaca fria, não tenho vergonha de ter tentado a tragédia grega e ter quebrado a cara.
A experiência me deu asas, aquelas que o imponderável presenteia a quem se arrisca. (...)
E onde começa tudo? No impulso: um movimento inflamado, vivo, às vezes brutal. Lá vai ele! Para onde vai? Para o desconhecido. Quando tudo corre bem a imaginação leva o ator a picos inacessíveis de neve eterna.
O prazer de ir mais longe não tolera academicismos.(...) Será que ele conseguirá jogar como se deve? Com leveza, fantasia, humor? (...)
Será ele capaz de retomar todo aquele prazer da infância, quando brincava de esconde-esconde, de bandido e mocinho? Será que conseguirá se esbaldar na luz?
Um ator# precisa de jogo e de luz,uma luz brutal, violenta, erótica, carnal, impura, luxuriante, voluptuosa, sibarítica.


Gaulier, Philippe " O atormentador minhas ideias sobre teatro" Sesc. SP 2016.
* titulo: A Piu
# o ser humano no geral e no particular ( nota minha)

terça-feira, 6 de março de 2018

POH EMAS


Homero uivou: grandes onirismos virão!!!
Elixires divinos omitirão vagos amores.
Transparências oníricas aqui na alma pulsam imensamente, ululando amizades. 
Ninfas ancoradas no humanismo valseante de verdadeiros amores épicos, dançantes.
Homero lero lero uivou de verdade com verdade.
Mais um passo para voar.
Quero, quero Homero!, uivou a ninfa onírica.
A Piu
Br, 06/03/2018

sexta-feira, 2 de março de 2018

O estudo do bufão compreende algumas etapas:

(...) 2)  Buscar três safados, modelos de pilantras, que ofereceriam sua baixaria à arte bufonesca. O que é um safado? Um tipo capaz de denunciar seu vizinho às autoridades fascistas, brutais; alguém que acha que nasceu da coxa de Zeus, alguém que odeia a vulnerabilidade, que não perdoa.

3) Buscar seu próprio bufão, suas deformações físicas, aquelas que ajudarão a descobrir o prazer do jogo, da paródia, da alegria de vir a público dizer a verdade aos buguesinhos de bunda perfumada.

4) Depois de um tempo: buscar o bufão dos dias de hoje. Loucos, deficientes mentais, homosesexuais, ciganos, aidéticos, negros ( os negros de Jean Genet); peças como Ubu Rei ( de Alfred Jarry) e as minhas, que foram publicadas em francês, inglês e espanhol. 


Gaullier, Philippe " O atormentador, minhas ideias sobre teatro". Ed. SESC. SP: 2016



quinta-feira, 1 de março de 2018

Encontro de palhaças e circenses discute o papel da mulher na arte

Protagonismo
“O papel da mulher palhaça e circense é de promover reflexões, potência, protagonismo em um campo tradicionalmente masculino, marcado por homens como referência. Tudo isso, nos fortalece muito como profissionais e seres humanos. A mulher, tanto no aspecto cultural quanto político, é fundamental na construção de uma sociedade mais humana”, afirmou Daniele Majzoub.
Para a artista portuguesa Ana Piu, que participará do encontro, disse que o evento é importante para que as mulheres possam ser protagonistas de suas próprias histórias. Ana nasceu em Lisboa e mora há seis anos no Brasil. É atriz e palhaça desde 1991.
Fundação Cultural Cassiano Ricardo

Fundação Cultural Cassiano Ricardo


https://www.sjc.sp.gov.br/noticias-home/2018/fevereiro/28/encontro-de-palhacas-e-circenses-discute-o-papel-da-mulher-na-arte/
SE CADA UM DOS AMIGOS CONTRIBUIR COM NO MÍNIMO R$10,00, A GENTE CHEGA LÁ.
WE ACCEPT DOLLARS, EUROS, POUNDS, SCANDINAVIAN CROWNS, IENES AND SO ON, AND SO ON. YOUR HELP IS VERY VERY IMPORTANT!   YOU CAN CONTACT US IN BOX.



https://www.kickante.com.br/campanhas/ar-dulce-ar-ensaio