sexta-feira, 8 de agosto de 2014

MALANGATANA NGWENEYA, HOMEM DE ALMA GRANDE



Talvez hajam outros pintores moçambicanos tão bons ou melhores que o Malangatana. O que é que isso interessa? Talvez interesse sim. Interessa promover a expressão artística como componente primordial da identidade de um povo. O trabalho do Malangatana é de se tirar o chapéu, assim como o do Mia Couto. Talvez hajam escritores tão ou mais interessantes que o Mia. Juntem-se e mostrem-se para o mundo! Sim, juntarmo-nos é importante. Faz-nos sentir que não estamos sós e isso dá-nos força interior para continuar, não esquecendo as nossas raízes e abrindo-nos para o diálogo.
Sinto orgulho em ler na ficha técnica do documentário sobre o Malangatana o nome daquele casal que conheci em Barão Geraldo. Eta! Finalmente vejo um filme realizado pela Isabel! Sinto orgulho por ela e pelo Casimiro em nos oferecer um filme que dignifica o Malangatana e o seu povo, que entre eles falam a sua língua e não português. É tocante também assistir ao diálogo entre o Mia Couto e o Malangatana, onde se adivinha amizade e uma profunda admiração. Bonito momento inicial onde o pintor fala com uma criança dos monstros do seu quadro e que um dia, quando crescer, falará melhor destes monstros que no quadro não fazem mal.De facto a arte serve para exorcizar os nossos monstros e fantasmas e sonhar com um mudo realizável. Também sinto indignação da PIDE (Policia Internacional de Defesa do Estado/ policia que estava ao serviço do regime fascista português que durou entre 1932 e 1974) ) ter violentado o pintor em tempos de ditadura fascista e colonialismo. Mas penso que a homenagem que a Isabel e o Casimiro fazem a esse grande pintor moçambicano de corpo redondo, voz rouca e doce e ao seu povo é uma ponte para nos juntarmos mais. Que branco, preto, amarelo, vermelho é uma questão de pigmentação e que diversidade cultural, linguística e outras diversidades enriquecem a alma.

a Piu
Br, 08.08.2014



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