Cá por casa espassarinha-se um daqueles aparelhos sem fios denominados ora por telemóveis, ora por celulares. Aparelho esse que sem visto de entrada já veio chegando de terras lusas com a sua respectiva operadora lusa. Sem entrar em grandes teorias da conspiração, o que é facto é que através do dito aparelho a pessoa está localizada no espaço planetário, mesmo que se refugie entre serras, serrados e cachoeiras.
Bom, mas não é isso que vem ao caso! Pois atrás duma teoria da conspiração vem sempre uma cultura do medo. E quem não deve não teme. E se temer é porque a coisa pode estar bem feia. E espero que não se chegue a esse ponto. Espero!...
Adiante. Num destes dias, como todos os outros que são contemplados com 24 horas, recebi uma mensagem erótica. Aí pelas 6 da manhã. Feitas as contas, umas 10 em Portugal Continental. Percebi que não era para mim. Primeiro porque vinha contextualizada, depois eu conheço a pessoa em causa, mas não somos assim tão próximas. Sem crédito no dito aparelho, não respondi. Passados uns minutos recebo outra a pedir desculpas. Assunto resolvido.
Uns dois dias mais tarde, recebo uma mensagem dum amigo que vive em Lisboa: “Te amo…”. Umas horas depois novamente: “Te amo…”. Bom… Acho que não é para mim. Esta coisa de vir no início da lista, por ser Ana, pode dar azo a confusões. Não respondi, porque não tinha crédito. Mas será que ele mi ama? Nãããã. Seria demais, o sujeito esperar eu me ausentar para se declarar. Mas tudo é possível… Objectivamente: o rapaz deve ter enviado por engano. Vou informá-lo no facebook, em privado. “Olá! Mandaste-me um sms por engano.” Tic Tac Tic Tac. Não obtive retorno. Das duas três: ou o jovem rapaz ficou constrangido ou a mensagem se diluiu na cacofonia do face ou ele nutre por mim um amor platónico. Diria que virtual. Uma espécie de osmose asmática. Quer, mas não sabe se quer. Tem vontade, mas não é para já. Deseja, mas à distância. Em suma, uma osmose que dá falta de ar de nunca se consumar. Enfim, uma osmose asmática. Fora de brincadeiras sérias, o rapaz deve-se ter enganado no número…
Ontem quando cheguei a casa trazia uma nostalgia no peito. Um vazio que não se traduz em palavras. O vazio que faz parte da vida. Assim como a morte que também faz parte da vida. E de vez em quando a morte surge ou simplesmente o seu prenúncio emerge onde tudo parecia normal. Percebo, então, o quanto isso cria um vazio cá dentro. O amigo Bernardo Sassetti faleceu. Amigo duma amiga íntima. A última vez que me cruzei com o Bernardo foi há uns meses atrás, ironicamente perto da Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa. Eu ia com as minhas filhas e ele falou-me dos seus filhos. O que ele estava a fazer. O que eu estava a fazer. Uma conversa casual. Despedimo-nos.
Ontem, ao trazer esse vazio no peito, deparo-me com um sms no aparelho luso: “O Bernardo Sassetti morreu”. Só assim. Vinha um número, mas o nome da pessoa não.
Depois pensei: Caramba!... Eu já sei que ele morreu. Mas dito assim choca ainda mais. Eu sei que há pessoas que lidam com a morte de forma pragmática, mas eu dispenso esse pragmatismo. Aprecio alguma solenidade, que não precisa de estar dentro daqueles cânones religiosos o nool das banalidades. Mas soa-me diferente se alguém disser:”O Bernardo partiu”; “Que descanse em paz onde estiver”;”Adeus Bernardo, até já”.
E depois há outra coisa que eu ainda acho. Eu cá também acho muitas coisas… Há aquela malta, não digo que tenha sido o caso, que tem um gosto algo macabro em dar notícias trágicas.
Quanto ao uso das palavras, em terras lusas há uma certa contenção em dizer:”Amo-te”, “Odeio-te”, por aí a fora. Um cero pudor expor emoções, talvez.
No caso, as palavras de homenagem que posso deixar ao Bernardo são:”Obrigada por teres contribuído neste mundo com a tua arte de pianista. E obrigada pela pessoa genial e humilde que foste. Amo a tua genialidade humilde.”
E já que homenagear é bom e sabe bem; talvez seja melhor ainda homenagearmo-nos de vez em quando. Pelo menos umas vezezinhas como quem vai aos treinos. Homenagearmo-nos em vida e quando estamos próximos uns dos outros, mesmo que a distância física nos separe.
Barão Geraldo, 12 de Maio de 2012
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