sexta-feira, 18 de maio de 2012

Voçê sabe quem limpa sua sujeira?



Tenho me  cruzado  um papelito colado numa parede: Voçê sabe quem limpa a sua sujeira? Existe outro papelito por debaixo que tece considerações sobre deixar o local limpo. Aprazível. Já fico satisfeita com a primeira pergunta. E o “sua” reverbera no neurônio. Pois é... Mas alguém tem mesmo de limpar a minha sujeira? E um monte de histórias, historietas surgem cintilantes e lustrosas, mais um comboio de perguntas. Aliás! Um trem! Primeira pergunta: “Mas alguém tem mesmo de limpar a minha sujeira?”. Segunda: ”Donde vem esta mania de alguém limpar a minha sujeira?”. Terceira: “Que sujeira eu faço quando faço sujeira?”

Bom! “Mais bon! Ahhh bahh oui! Portugaise! Bien sure! Ma mére as une femme du ménage portugaise!”, intercede uma ilustre colega de escola lá no Paris da França. Cof Cof. Podia-lhe ter respondido que a minha tia também tem um caniche de raça francesa. Mas parece-me que este cinismo não iria contribuir em nada. E respondo (em françiu):”Olha, pois ainda existem, por enquanto, pessoas a viverem em Portugal. Nem todos migraram. (isto passou-se em 96...). E nem todas pessoas são femme du ménage. (...) Mas a coisa vai em degradé pelo mundo, tu vois? Conheço um senhor da Guiné Bissau que é pedreiro em Portugal e na Guiné estava na escola de Belas Artes. No final onde uns são criados, noutro lado são patrões. Mas só nalguns casos, falo...”; “ Ahh! Mas existem escolas de Belas Artes na Guiné? E escolas de arte dramática em Portugal?” Dramático.

Uma amiga, que além de trabalhar e ser pessoa, é mãe dizia-me: ” Quando a minha casa tá de pantanas é sinal que produzo bem. Que dou vazão aos artigos que tenho de escrever”. Confesso que gostei da perspectiva. Que ter a casa de pantanas, com um filho ou dois a esculhambar a pouca organização que ainda conseguimos manter... E depois escrever artigos!! Epa! Tiro o meu chapéu e alivio-me de não ser a única a ter consciência do caos eminente e de tantas outras responsabilidades. Apesar de reunir esforços para que a coisa se mantenha respirável... Tenho aprendido minimamente... Ehehe.
Uma amiga inglesa com que partilhei casa dizia-me que limpar a sua sujeira só ela mesma. Concordo. Vai que não vai no meio de alguém limpar a nossa sujeira deita para o lixo segredos subtis de nós mesmos. Nããã. E limpar a minha sujeira ajuda-me a organizar cá dentro. Porque afinal quem limpa a nossa sujeira interior? O terapeuta? O tal livro do “How to be happy in 5 minutes”? Num mi parece. Podem dar uma ajudinha. Pero!...

Quando andei pelos Berlins da Alemanha entendendo o modus vevendis da dita cidade acompanhei uma amiga ao infantário do seu filho. O sistema de limpeza do dito era rotativo pelos pais/ encarregados de educação das crianças. Genau! Faz sentido! Nós, os utilizadores do espaço, tratamos do mesmo para que os nossos filhos se sintam bem. E nós também.  Além de ser uma forma das pessoas se conhecerem duma forma construtiva.

Lá num seminário na Dinamarca, cuja programação diária dos dez dias era bastante densa, foi criada uma tabela de trabalho para as dezenas de participantes. Cada dupla ficava responsável pela limpeza e manutenção do espaço.

Bom!... Já que o deslumbramento, o fascínio pelos países ditos desenvolvidos e ricos é muito então porque não seguir o exemplo? Já que se questiona que esta coisa de ter faxineira/mulher da limpeza, motorista são resquícios da escravatura. Quanto a mim não quero ir tão longe quanto à escravatura. Fiquemo-nos sós pelo servilismo.

Bem sei, que aqui pelo  Brasil existem relações de entre ajuda entre a pessoa que faz a faxina e quem “contrata”. Essa pessoa, algumas vezes, passa a ser como um membro da família.  Mas a questão continua: “Essa pessoa faz faxina, porque provavelmente não pode vislumbrar outro tipo de trabalho.”
Eu sei que sabe muita bem chegar a casa e ter tudo limpo e arrumado. Sabe mesmo bem!  Às vezes (muitas vezes) eu gostaria de ter esse privilégio. Mas não deixo de achar curioso quando se faz uma festa a primeira coisa em que se pensa é chamar uma faxineira para depois da festa. Pôô!! O pessoal que curtiu à brava não é capaz de limpar a sujeira da festa, em conjunto?... Hmmmm, num sei, não. Né? Bora lá sermos modernos, pós modernos, pós pós modernos e limpar o pó que nós levantamos. Num é mesmo? Pode até ser divertido, não? Continuar a festa com uma musiquinha, umas bebiditas e uns petiscos para acompanhar enquanto se limpa a nossa sujeira. Que tal?


Barão Geraldo, 18 de Maio de 2012

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