Quando eu era menina e moça vivia numa singelo e pacato lugarejo suburbano. Nessa época o rebanho de ovelhas passava pela minha rua. A Rua do Lavadouro. E a vida corria ao som da edificação de fábricas e da construção clandestina de casas, logo após o 25 de Abril. “Casas para todos!” Apoio, porém o sentido estético era, por vezes, duvidoso. Mas aí que saudades das andorinhas de plástico penduradas na parede e casas com o nome de “O nosso ninho”; “ Vivenda Carrapato” (junção dos nomes dos irmãos Carlos, Ramiro, Paula e Tobias).
Da Rua do Lavadouro eu podia contemplar a Serra de Sintra a uns 7km de distância. Com os meus 6 anos assisti durante dois ou três dias a serra a arder. Uma visão apocalíptica que poderia confirmar a história dos meus desenhos animados preferidos (Conan, o rapaz do futuro). E lá voltava para casa de bicicleta, depois de comer um corneto de chocolate e cantar o jingle:”E a vida sorriiii!”.
Guardada a bicicleta, corria para assistir o “Verão Azul” onde crianças brincavam na rua e pedalavam em grupo numa aldeia de veraneio espanhola. A amizade, a solidariedade pautavam o guião da história. Finalizado o momento televisivo, o percurso que vai as escadas da casa até ao quintal era feita em gincana, tal como víamos nos “Jogos Sem Fronteiras”. Ooooh doce nostalgia! Mas tempo, não precisas voltar para trás, que a vida é aqui e agora.
No fundo da Rua do Lavadouro havia um tanque público onde as mulheres lavavam a roupa, mesmo tendo máquinas em casa. Um lugar de convívio para pôr as novidades em dia. E claro! Lavar a roupa suja!
A minha querida e terna avó tinha um lugar cativo no dito tanque. E quando eu chegava da escola podia confirmar, com um simples erguer de cabeça e colocando o corpo em diagonal, onde a mocinha do cabelo branco se encontrava.
A dita mocinha do cabelo branco por vezes trazia algumas novidades e começava: “(A)inda agora aqui ao tanque contaram-me: tal, tal e tal”. Umas vezes eram informações escutadas na telefonia outras eram fait divers das amigas de tanque e do lugarejo em causa. Entre a telefonia de manhã e as incursões da mocinha ao tanque lá nos íamos mantendo informados dos percalços do quotidiano. Aliás, ao que consta no dia 25 de Abril de 74 (revolução dos cravos) foi a dita mocinha que apareceu logo de manhã lá por casa alertando para não se sair e tão pouco ir trabalhar para Lisboa. Bom, nos meus singelos 6 meses de idade não tive, naturalmente, voto na matéria. E lá fiquei eu consignada ao calor do meu lar.
Volvidos 38 anos, onde muitos vinis a passarem debaixo da ponte com “promessas” de mudança para um mundo mais respirável, encontramo-nos hoje aqui entre um IPode mas afinal não pode, um IPede que eu já te dou. Encontramo-nos aqui em frente ao telefone móvel, ao computador portátil, circulando e escolhendo (?) sair do mesmo lugar ou não.
Ao escolher sair do mesmo lugar sem querer perder a referência do lugar de onde venho organizei um festum! O festum do “Até jazz!” No dito festum, voltou a baila o cepticismo duma amiga em relação ao facebook. E uma vez mais argumentei que se soubermos utilizar o facebook, assim como outra coisa qualquer duma forma construtiva, é fixe! Encontramos pessoas, trocamos ideias, ORGANIZARMO-NOS! Cool! Não tem de ser necessariamente um lugar para lavar roupa suja ou fazer dos murais um bidé público ou uma revista de curiosidades e ilações prematuras e imaturas da vida alheia.
Contudo, porém, no entanto e todavia quando a Cláudia sai-se com esta: “Agora já não se diz mais “inda agora aqui ao tanque”; agora diz-se “inda agora aqui ao facebook!” eu não pude deixar de rir como se estivesse em transe! MUITO BOM!!! “Inda agora aqui ao Facebook!!!” GENIAL!
Cláudia! Quero te dizer que és a minha heroína a seguir ao Super Bock!!! Mas como te dizer, se nem fiquei com o teu e- mail?!.....................
Bom, tá bem! Posso te enviar um sms a perguntar!!...
Keep in contact! Keep in contact! E a vida sorriiiiiii!!
Sem comentários:
Enviar um comentário