- e se em vez de navegadores portugueses, espanhois tivessem chegado sacerdotizas portuguesas, espanholas?
Há dois dias atrás a querida Ismine Lima, criadora do teatro lambe lambe com a igualmente querida Denise Santos, completou 70 anos. Foi uma honra ter sido tratada como ' companheira' após a ter parabenizado pela sua existência. Parabenizo aqui também a grande honra que é conhecer pessoalmente duas mulheres do nordeste brasileiro que criaram uma linguagem artística com um olhar democratizante. Esta linguagem que se trata de assistir a um teatro de miniatura dentro duma caixa mágica onde guarda segredos oníricos e outros sonhos para um mundo emocionalmente mais sustentável.
O teatro lambe lambe surgiu da necessidade de contar com intimismo o parto, o nascimento de alguém, de algo. O nascimento do teatro lambe lambe nasce dessa necessidade de representar o nascimento. Esses nascimentos são gerados no ventre de duas artistas educadoras, pedagogas. Essa linguagem tem florescido pelo continente americano e também já chegou à Europa.
Nestes dias tenho me debruçado num roteiro, num tal de 'story board' que é desenhar em quadrinhos história e relata-la sinteticamente. Há um bom tempo que eu venho pensando no outro lado da história, na história que ninguém ou muitos poucos se lembram. Uma história que não nega a história oficial e sim a complementa. Uma história contada pelo ponto de vista do feminino. Uma história que eu gostaria que tivesse acontecido sem os percalços da distorção do que é se ser ser humano. Uma história onde mulheres do outro lado do mar viessem ao encontro de outros povos, cultura se sociedades numa visão de florescimento, de co criação, de abundância e reverência à vida. Ao escrever esse roteiro eu vi-me numa encruzilhada... Eu não poderia, nem posso dourar uma pílula do que realmente aconteceu e acontece com a chegada dos Europeus neste continente. Posso sim colocar elementos sobre o sagrado feminino com o conhecimento do poder das plantas, e como tudo isso foi perseguido pela Santa Fé e pela Coroa. Como a nossa sexualidade, libido foi violentada, distorcida, usada e abusada sem o nosso consentimento. Como fomos e ainda somos reprimidas na nossa sensualidade que aos olhos de muitos não passa duma provocação, onde colocadas nesse lugar de vulnerabilidade, acham que não temos poder de escolha. O nosso corpo e a nossa alma são sagradas. O nosso corpo é um templo que entra quem nós permitimos com respeito e amorosidade. Na minha história eu falo, ou pelo menos tento falar, da cura do planeta pelo sagrado feminino e masculino. Que nós nos complementamos e que o nosso grande centro de poder e de criatividade encontra-se no chacra do ventre. Os homens como outros géneros fazem parte dessa cura do planeta. Nós nos enxergamos uns aos outres com respeito e sabedoria, independentemente das escolhas e visões de mundo É LI-BER-TA-DOR!
Mil vezes agradecida por estas duas mulheres darem à luz esta linguagem de dimensões grandiosamente pequenas para um espectador só ou até mesmo para três ou quatro. Uma vertente do teatro essencial onde o foco está no teatro de animação e não no manipulador, podendo este aparecer eventualmente dando pitadas de atuação como ator ou contador de histórias. Um leque de possibilidades para quem enxerga o fazer artístico como um pulo do gato, um salto para a liberdade de expressão.
A Piu
Campinas SP 19/8/2020
Resgatando o meu poder
Resgatando a minha essência
Mergulho fundo em meu Ser
Desço ao ventre
Que vibra intensamente
Eu me liberto das dores do passado
Eu me liberto das dores ancestrais
Eu liberto o meu ventre de todo o sofrimento somatizado
Agora, o meu ventre é livre para amar
O amor por mim mesma
O amor pela vida
O amor pela Grande Mãe
O amor pelos meus irmãos e irmãs
Eu conecto o meu ventre ao da Grande Mãe
Nos comunicamos através do coração do meu ventre
Peço luz, orientação e sabedoria
Para seguir o meu caminho
Espalhar as suas sementes
Compartilhando dos teus mistérios com as minhas irmãs
Nos ajude a relembrar
Que o nosso ventre é sagrado
Que somos sagradas
E unidas podemos mudar o mundo.
Gratidão profunda,
Fernanda Brener