terça-feira, 24 de abril de 2012

Na madrugada de 24 para 25 de Abril de 1974 o Movimento das Forças Armadas deu fim à longa noite de 48 anos de ditadura vivida em Portugal e nas suas, então, colónias além mar.No dia seguinte o "povo"/ uma grande parte da população se juntou. Muitas foram as vitimas dessa linga noite dos tempos da outra senhora...Algumas delas ainda vivas. Muitos foram os traumatizados de guerra que sobreviventes voltaram com as suas mazelas para junto das suas famílias. Após quase quatro décadas muitas coisas ainda estão por dizer, por lembrar. O tabu é uma forma de amaciar a dor. Recordo-me duma coleguinha de escola que nos seus 8 anos me dizia revoltada, olhando-me nos olhos:"O meu pai copmbateu na Guiné Bissau! O que é que tu pensas?!" Nessa altura o que eu pensava é que devia ter sido muito duro para ele e talvez ele fosse um heroi e pensava que ainda bem que o meu pai não tinha combatido, muito por acaso. E se passado 30 anos me lembro da minha coleguinha é com certeza pela intensidade do seu olhar, das suas palavras e da sua respiração. Quantos pais não acordaram e acordam a meio da noite sobressaltados por visões dantescas ao som de bombardeamentos? Quanta gente não voltou para casa? Quanta gente não teve a possibilidade, devido ao alto nível de analfabetismo e lavagem cerebral, de questionar que Angola não tinha de ser nossa e que o "ORGULHOSAMENTE SÓS" remeteu todo um Portugal para as franjas das franjas da Europa, onde a descoloinização já começara, com seus contornos algumas vezes duvidosos. Há uns meses atrás um actor dinamarquês dos seus 65/70 anos falava-me dos "happy sixties". Sem ironia respondi-lhe que a geração dos meus pais, que é a sua geração, viveu os "sad sixties". Pouca coisa entrava no Portugal dos pequenitos devido à censura. Por conseguinte, quando alguém vem com a piada de mau gosto alardeando em praça pública que para esta democracia mais valia o tempo do Salazar!... Penso: este figura já se esqueceu que teve de dividir uma sardinha com a sua familia de 9 pessoas. Este figura talvez coma demasiado queijo rançoso que o faça esquecer dum História tão recente onde a agenda do dia era o medo e a desconfiança. O medo de ser, de pensar, medo de represálias onde todos poderiam,eventualmente, serem bufos/delatores. Se a democracia actual está corroida não invalida que o 25 de Abril nunca tinha de acontecer. Se as descolonizações foram feitas às três pancadas não siginifica que no tempo do colonialismo é que era bom. Que os equivocos históricos se dissipem. E os sociais também, porque do lado do "branco" existiram e existem resistentes, solidários com um mundo onde a xenofobia, a exploração, o abuso de poder são cartas para sairem do jogo da vida. Porque afinal o que todos, duma maneira ou outra, queremos é estarmos vivos. Parece-me... Agora esse modo de querer pode variar, desde que não prejudique o próximo.

Barão Geraldo/ São Paulo, 24 de Abrl de 2012


48 (Portugal, 2009). Susana de Sousa Dias. 

http://youtu.be/UhxxOkYkph

 

Sem comentários:

Enviar um comentário