segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O FUTURO É AGORA


 Querida Ismine Lima, antes de tudo quero te dar duas boas notícias. Ontem duas mulheres índigenas foram eleitas deputadas federais: Sônia Guajara em São Paulo e Célia Xacriaba em Minas Gerais. Eu fico profundamente feliz com estas vitórias e de outras mulheres que defendem uma vida mais sustentável e justa neste imenso território. Vai ter segunda volta para a eleição da presidência.  Bem sei que gostarias que o Lula ganhasse na primeira volta, mas este é o mundo em que estamos a viver e que precisamos de saber lidar com sabedoria sem nunca esmorecer. Porque o futuro é agora. Foi isso que eu respondi numa live dos festejos do teatro lambe lambe, do qual tu és percursora juntamente com a tua querida amiga Denise di Santos, em tua homenagem. O meu eterno agradecimento ao convie em participar do festejo.

Que futuro para o teatro lambe lambe entregue a esta crescente nação de operários da arte? Fazer. Pesquisar, Criar. Apresentar. Continuar. Organizarmos para que juntxs nos possamos fortalecer. Tive um enorme prazer de te conhecer em vida, pessoalmente, e a infinita honra de me considerares companheira e amiga. Trago-to viva dentro da minha alma, do meu coração, como de muitos que te querem bem e te homenageiam honrando esse pontapé de saída que é um estilo de fazer arte de forma democrática com afeto. Gratidão infinita pela tua geneorosidade e inspiração em levar teatro em minitura de curta duração dentro de caixas, que cada um de nós criará consoante a imaginação e necessidade para as ruas, praças, espaços convencionais e não convencionais. Um estilo que nos permite juntar artes cênicas com as visuais em que contamos uma história como quem conta um segredo precisoso. A vida é precisosa, não é? Embora algumas vezes fiquemos preocupadas com o rumo que esta toma somos re existência.

Sim, Ismine, concordo plenamente contigo ao afirmares que o Brasil é o futuro da criação artística. Não concordo para te agradar e ficar bem na fotografia tampouco porque sou patriota. porque haveria de ser? Sinceramente eu duvido dos patriotismo e para todos os efeitos eu não sou brasileira. Dizer que sou do mundo em parte é verdade, mas pode cair num grande clichê esvaziado de conteúdo. Aqui eu sinto-me em casa, apesar de algumas vezes duma forma deslocada ainda a tatear onde me enturmar e ser acolhida. Eu sempre trabalhei como atriz de teatro e palhaça, mas curiosamente foi na grande família lambe lambeira que me tenho sentido efetivamente acarinhada e incluida com mais continuidade. As formas animadas é um vasto campo de pesquisa e atuação que me inspira como artista que considera que a arte, a cultura, a educação são a base para nos nutrir e dar saúde. Também agradeço à artista visual Denise Valarini de me ter apresentado o teatro lambe lambe e ter enriquecido a estética deste trabalho que venho a desenvolver com algunas das suas máscaras e cabeças para os bonecos que tenho vindo construi. Agora estou em fase de aprender a ser eu a construir. Nós, fazedores de arte, somos operárirxs em construção.

Ontem, durante as eleições, recolhi-me por motivos vários mas sempre atenta ao rumo dos acontecimentos. Dediquei-me a finalizar o livro do músico baiano paulista Tom Zé e a assistir filmes sobre ele e ouvir músicas. E VIVA O NORDESTE QUE ESPERO QUE SALVE ESTA SEGUNDA VOLTA ELEITORAL! Tom Zé inpira-me muito e acredito que seja da mesma safra de artistas como tu que confirmam que o imenso território continental brasileiro é rico e efervescente em cultura e arte. Um imenso território de resistência e re existência. 

Gratidão profunda a todxs os brasileiros afro descendentes e de múltiplas descendências, povos originários que não desistem de criar um mundo mais belo (sem fofinhuras) e justo.

Obs: esta foto é de 1977 no dia do meu aniversário, por aqui ainda se viviam os anos de chumbo ao passo que em Portugal já se respirava democracia com todas as tropelias em que muitos de nós escutavamos com admiração, respeito e carinho MPB, os Chicos, os Miltons, os Caetanos, as Elis, as Bethânias, etc. O Tom Zé já o conheci nos anos 90, esquecido e depois lembrado pelo David Byrne, um norte americano excepcional e fora da caixinha. Que as nossas caixas lambe lambe vivam fora da caixinha dos poderes instítuidos!

Um grande abraço maior que os meus braços,companheira camarada e amiga Ismine!

A Piu

Campinas SP 03/10/2022

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