quarta-feira, 19 de outubro de 2022

UNIDXS VENCEREMOS AS NOSSAS PRÓPRAS SOMBRAS!


 

Vestir, calçar, comer, beber, pensar, sentir, agir são atos politicos. Não ser politizado é um ato politico também. Seguir as tendências como não segui-las é um ato politico. Pensar pela própria cabeça além dum ato politico deveria ser um dever, antes dum direito. Existem cabeças de todas as formas e feitios: redondas, bicudas, quadradas, achatadas. Cabeças de vento, cabeças com a mioleira só para fazer peso para o nariz não cair despropositadamente, cabeças tão pesadas pela mioleira pensar tanto que se arroga contra o caminho do coração, cabeças cabeludas, carecas, de penteado leve e solto ou de brilhantina para os mais velhos e gel para os modernaços. Há de tudo nesta vida pela qual passamos. Se existem passadas e futuras tudo bem, mas é nesta que agora vivemos e se for para limpar os tais dos karmas então mãos à obra.
Estas são umas sandálias nordestinas nos pés duma portuguesa com umas tantas costelas, uma delas é alentejana, que é uma região ao sul de Portugal cujo povo tem as suas semelhanças com o nordestino. Os pés com as ditas sandálias pernambucanas, não das lojas pernambucanas ( vamos combinar) e sim do Estado do Pernambuco, estão em primeira posição na gramática do balé clássico. Sim, aqui a portuguesa com costela alentejana de sandálias nordestinas praticou balé clássico na infância, depois os seus horizontes foram-se abrindo ainda mais até chegar à cultura popular brasileira entre outras culturas não europeias que não a francesa, com o seu valor mas que não é a única nem foi nem nunca será a melhor ( se é que existe a cultura melhor. Da minha parte desconfio que não.)
Os pés estão forma de V de vitória, o que isso possa significar. São vermelhas porque a Anuska gosta de vermelho, independentemente dos partidos, assim como gosta de verde e também de amarelo. Os seus pés estão pousados, para não dizer enraizados no quintal da sua casa numa grama que cresceu agora com as chuvas, onde pequenas florzinhas vermelhas de primavera. Posso sempre alegar que a conjugação de cores tem a ver com a bandeira de PT... Portugal! Ihihih Uhuhu ahahah olha a pegadinha!
É um tanto constrangedor alguém se ofender e até agredir outres por usarem cores nesta campanha eleitoral. Agora no Brasil a roupa vermelha é dos petistas e esquerdas e a verde amarela dos.... Não sei o que lhes chamar.... Esses mesmo de categoria inqualificável que são preconceituosos com nordestinos, negros, pobres, trans, homosexuais, mulheres.
Eu tento não bater de frente com os de categoria inqualificável porque desconfio que o diálogo poderá ser inexistente ou infértil, mas dou-me ao trabalho de confrontar aqueles e aquelas que considero que podem ser companheirxs. Quem defende os direitos dxs trabalhadores espera-se no minimo que respeite o trabalho dos nordestinos, negros, pobres, trans, homosexuais, mulheres. Por exemplo, há lugar para o machismo a esta altura do campeonato? O machismo é algo muito sério, assim como o racismo, a homofobia e o classismo. Como ninguém nasce racista, homofóbico e machista acredito que todos nós nascemos para nos trabalharmos internamente. E isso leva uma vida inteirinha. A união começa por nos dispormos a nos auto conhecer ao invés de partir de suposições acerca da existência alheia, da importância ou da desimportância da força de trabalho de quem nos rodeia. Ser-se anti racista, anti homofóbico e anti machista é sair, por exemplo, do lugar de pegador onde se exotiza e coleciona-se seres humanos entre um date e uma crise de carência e solidão. Somos sim seres solitárixs que precisamos de lidar com a nossa solitude para que os encontros e a uniãos tenham a firmeza da transparência e da não mentira. Ser-se anti racista, anti homofóbico e anti machista e solidário é não permitir que ninguém boicote e desrespeite quem trabalha com dignidade.
Onde há vontade de caminhar que os pés repousem para escutar a auto consciência e onde vai a consciência do coletivo.
A Piu
B'Olhão Geral Zem 19/10/2022

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O FUTURO É AGORA


 Querida Ismine Lima, antes de tudo quero te dar duas boas notícias. Ontem duas mulheres índigenas foram eleitas deputadas federais: Sônia Guajara em São Paulo e Célia Xacriaba em Minas Gerais. Eu fico profundamente feliz com estas vitórias e de outras mulheres que defendem uma vida mais sustentável e justa neste imenso território. Vai ter segunda volta para a eleição da presidência.  Bem sei que gostarias que o Lula ganhasse na primeira volta, mas este é o mundo em que estamos a viver e que precisamos de saber lidar com sabedoria sem nunca esmorecer. Porque o futuro é agora. Foi isso que eu respondi numa live dos festejos do teatro lambe lambe, do qual tu és percursora juntamente com a tua querida amiga Denise di Santos, em tua homenagem. O meu eterno agradecimento ao convie em participar do festejo.

Que futuro para o teatro lambe lambe entregue a esta crescente nação de operários da arte? Fazer. Pesquisar, Criar. Apresentar. Continuar. Organizarmos para que juntxs nos possamos fortalecer. Tive um enorme prazer de te conhecer em vida, pessoalmente, e a infinita honra de me considerares companheira e amiga. Trago-to viva dentro da minha alma, do meu coração, como de muitos que te querem bem e te homenageiam honrando esse pontapé de saída que é um estilo de fazer arte de forma democrática com afeto. Gratidão infinita pela tua geneorosidade e inspiração em levar teatro em minitura de curta duração dentro de caixas, que cada um de nós criará consoante a imaginação e necessidade para as ruas, praças, espaços convencionais e não convencionais. Um estilo que nos permite juntar artes cênicas com as visuais em que contamos uma história como quem conta um segredo precisoso. A vida é precisosa, não é? Embora algumas vezes fiquemos preocupadas com o rumo que esta toma somos re existência.

Sim, Ismine, concordo plenamente contigo ao afirmares que o Brasil é o futuro da criação artística. Não concordo para te agradar e ficar bem na fotografia tampouco porque sou patriota. porque haveria de ser? Sinceramente eu duvido dos patriotismo e para todos os efeitos eu não sou brasileira. Dizer que sou do mundo em parte é verdade, mas pode cair num grande clichê esvaziado de conteúdo. Aqui eu sinto-me em casa, apesar de algumas vezes duma forma deslocada ainda a tatear onde me enturmar e ser acolhida. Eu sempre trabalhei como atriz de teatro e palhaça, mas curiosamente foi na grande família lambe lambeira que me tenho sentido efetivamente acarinhada e incluida com mais continuidade. As formas animadas é um vasto campo de pesquisa e atuação que me inspira como artista que considera que a arte, a cultura, a educação são a base para nos nutrir e dar saúde. Também agradeço à artista visual Denise Valarini de me ter apresentado o teatro lambe lambe e ter enriquecido a estética deste trabalho que venho a desenvolver com algunas das suas máscaras e cabeças para os bonecos que tenho vindo construi. Agora estou em fase de aprender a ser eu a construir. Nós, fazedores de arte, somos operárirxs em construção.

Ontem, durante as eleições, recolhi-me por motivos vários mas sempre atenta ao rumo dos acontecimentos. Dediquei-me a finalizar o livro do músico baiano paulista Tom Zé e a assistir filmes sobre ele e ouvir músicas. E VIVA O NORDESTE QUE ESPERO QUE SALVE ESTA SEGUNDA VOLTA ELEITORAL! Tom Zé inpira-me muito e acredito que seja da mesma safra de artistas como tu que confirmam que o imenso território continental brasileiro é rico e efervescente em cultura e arte. Um imenso território de resistência e re existência. 

Gratidão profunda a todxs os brasileiros afro descendentes e de múltiplas descendências, povos originários que não desistem de criar um mundo mais belo (sem fofinhuras) e justo.

Obs: esta foto é de 1977 no dia do meu aniversário, por aqui ainda se viviam os anos de chumbo ao passo que em Portugal já se respirava democracia com todas as tropelias em que muitos de nós escutavamos com admiração, respeito e carinho MPB, os Chicos, os Miltons, os Caetanos, as Elis, as Bethânias, etc. O Tom Zé já o conheci nos anos 90, esquecido e depois lembrado pelo David Byrne, um norte americano excepcional e fora da caixinha. Que as nossas caixas lambe lambe vivam fora da caixinha dos poderes instítuidos!

Um grande abraço maior que os meus braços,companheira camarada e amiga Ismine!

A Piu

Campinas SP 03/10/2022