sexta-feira, 24 de novembro de 2017

REESCREVENDO A HISTÓRIA

Eis-me aqui na cidade de Campinas, no estado de São Paulo. O último reduto da escravatura. O último lugar da América a abolir a escravatura. Não significa, porém, que o racismo tenha acabado e que as relações de vassalagem se tenham erradicado por completo.
Nascida em Lisboa no ano da graça do senhor de 1973, faço parte da primeira geração de crianças do pós colonialismo português. Provavelmente fosse um escândalo na época da minha mãe uma branquela da metrópole unir-se e ter filhos com um negro com uma visão emancipatoria, pelo menos da parte da mulher. Não podemos, igualmente, fechar os olhos ao facto do machismo ser transversal às etnias, grupos culturais e sociais.
Como mulher, cidadã do mundo, nascida e criada no continente europeu não posso negar as minhas origens e o significado ancestral do que é ser português ou portuguesa no Brasil ou nos países africanos que viram a sua independência em 1975. Sinto muito do fundo do coração toda essa boçalidade que foi e é o projeto imperialista e colonialista. Não se justifica em nenhuma das vertentes. Nada justifica o saque, o desrespeito e a destruição de identidades e povos.
Eu entendo que no Brasil haja essa necessidade tão forte de afirmação da negritude que muitas vezes nem querem ver os branco por perto. Pois até hoje ser negro é ter voz muito abafada e uma desconsideração latente. Assim como as mulheres aos poucos vão ganhado o seu espaço. Mas quando se atentam a colocar em causa a lógica patriarcal são tidas como loucas e até mesmo rechaçadas.
Por exemplo, se pesquisarem no you tube sobre a obra da pintora portuguesa Paula Rego vão-se deparar com uns comentários duma homenzarrada que é de bradar aos céus.
Na verdade, muito honestamente, não posso nem quero ser porta voz do povo português neste dia tão significativo no Brasil. Isto porque sinceramente a maioria de "nós", não todos claro, é arrogante e racista em maior ou menor dosagem. Isso é constrangedor. Mas ainda há tempo de tod@s nós fazermos um trabalho de limpeza interior e expandir a consciência.
Para finalizar, gostaria de homenagear o povo ameríndio, nativo primeiro deste território, e publicamente afirmar o quanto me sinto honrada pela oportunidade de toda amorosidade espiritual que tenho recebido nas figuras de pajés; tanto homens como mulheres.
Que nos possamos rir dos senhores em todos os anos da graça do senhor e que a vida seja pautada por gentileza, amorosidade, respeito, empatia, riso de criança livre e alegria de honrar a vida.
A Piu
Brasil, 20/11/2017
dedicado ás minhas filhas

Foto de Ana Piu.
Foto de Ana Piu.

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