" Toda vez que vemos mulheres representadas em pinturas, desenhos, novelas e filmes feitos por homens, podemos nos perguntar se em sua narrativa eles foram machistas. Também podemos nos indagar se as próprias mulheres o são quando, ao se tornarem narradoras, assumem a lógica machista sem muita consciência. Não adianta responder que as mulheres são vitimas do patriarcado, pois ele conta com a adesão das vítimas ao seu jogo de linguagem. Além disso, esse tipo de argumento reduz as mulheres a pobre coitadas, o que empobrece o sentido da luta feminista, que se contrapõe a tudo isso. (..)
Nessa linha, podemos nos perguntar: quando o presidente golpista da República, em um 8 de Março, fez seu comentário infeliz relacionado às mulheres e economia doméstica, num tom que transitava do desconhecimento de economia ao desconhecimento da vida das mulheres, podemos pensar que ele falava como um homem muito antigo, como um ignorante quanto à luta das mulheres por direitos, quanto à vida das mulheres como trabalhadoras, como profissionais, artistas, etc? As mulheres vivem em nossa época apenas como donas de casa, na visão daquele homem antigo Contudo, não se trata apenas disso.
Como representante do culto da ignorância machista, a fala do presidente do Golpe é estratégica. Se de um lado, podemos supor uma tentativa de mistificação das massas de mulheres que de fato também são donas de casa- fingindo que elas são principalmente isso, que não são trabalhadoras e profissionais nas mais diversas áreas-, de outro, vemos ressurgir a velha esperança do machismo: de que as mulheres fiquem em casa a esperar sentadas, que não entrem na política, muito menos com a consciência política à qual damos o nome de feminismo.
TIBURI, Marcia " Feminismo em comum para todas, todes e todos" , Rosa dos tempos. Rio de Janeiro: 2018.
* título: Ana Piu
foto: palhaça Bell Trana d'Talll- Ana Piu em Palhaças do Mundo/ Brasília 2017
credito: estúdios carbono
foto: palhaça Bell Trana d'Talll- Ana Piu em Palhaças do Mundo/ Brasília 2017
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