terça-feira, 25 de setembro de 2018

LIBERDADE E EMANCIPAÇÃO PARA TODAS, TODES E TODOS*

" Se pudéssemos escolher, provavelmente preferíamos os privilégios (...) Além disso, as pessoas têm vergonha de estar no lugar de oprimidas. Vergonha de serem mulheres, de serem negras, de serem pobres. Vergonha desses legados de classe em uma sociedade que mede os outros pela cafonice autoritária do
" berço ". Por isso o argumento do mérito soa sempre tão precário. (...) Mesmo pessoas muito pobres preferem muitas vezes defender a chamada " meritocracia" a entender a opressão que impede tanta gente de viver em condições melhores e desenvolver potencialidades no sentido de terem o direito a se tornarem quem são. (...)
Contudo, de nada adianta dizer-se feminista sem lutar pela transformação da sociedade. Essa transformação, por sua vez, implica perceber que as mulheres são uma forma de classe trabalhadora. (...)
A questão da representação das mulheres na vida política é bastante grande. Quando pensamos nos percentuais ínfimos de participação, ficamos perplexas. Como é possível que, mesmo que representem mais de metade da população mundial, as mulheres estejam tão longe da política como instância de decisão sobre a sociedade? (...)
A história das mulheres poderia ser contada como a das vítimas (...) A mais difícil das condições é a da vítima, pois, mesmo quando espancada e assassinada, culpada e proscrita, vítima é aquela que desperta no seu algoz o desejo de espancar e assassinar. O sistema de violência opera por repetição duma lógica. O feminismo crítico e autocrítico deve pressupor o sadomasoquismo que envolve sujeitos e instaura o laço social entre eles. O que chamo de sadomasoquismo não é uma ordem de prazer e desprazer eleitos por pessoas, mas um jogo de poder que usa os aspectos do prazer e do desprazer contra os próprios sujeitos implicados nele e muito para além do que eles significam no sentido mais simples. De um lado há os que se põem no lugar de algozes, de outro há as vítimas. (...)
Penso que agora em nosso país sob um Golpe que começou em 2016 e que, durante a escrita deste livro. ainda não terminou. Um Golpe que foi uma violência contra a mulher e instaurou uma ditadura machista, insidiosa e cínica, como todo o machismo. (...) Penso em uma sociedade em capaz de ajudar, educar e cuidar de cada um de seus cidadãos. Uma sociedade de direitos fundamentais. Um Estado para o povo, e não para a elite privilegiada e autoritária. (...)
O feminismo em comum é um convite e um chamado para o diálogo e a luta. Aceitá-lo é uma questão de inteligência sociopolítica e de amor ao mundo."
TIBURI, Marcia " Feminismo em comum para todas, todes e todos" , Rosa dos tempos. Rio de Janeiro: 2018.
* título: Ana Piu


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