quinta-feira, 30 de agosto de 2018

DIÁRIO DE BORDO

No aeroporto de Cuiabá pedem para eu abrir a mochila. Um clarinete com as respectivas chaves metálicas. A nossa arte é nossa arma. O pacifismo é uma arma. Passando a alfandega alguns olhares de outros passageiros possam supor que eu, por ter a tez clara, "ozolhos azules" e o cabelo caramelo que para os mais morenos é louro (?...) , embora com alguns apontamentos de branco, sou filha de alguém muito importante. Com muitaaaa dinheiroooooooo. Poderozissimoooooooo. Claro! É tão óbvio.

Uma senhora lê Saramago na sala de espera. Olha!... Elucidativo numa terra de latifundiários. Eu só consegui ler duma ponta à outra o " Memorial do Convento". "Levantado do Chão" parei a meio. Talvez fosse tão próximo à história dos meus avós que angustiei. Os outros, hei-de ler quando estiver para aí virada.

Bom, nos dias em que estive em Cuiabá escutei uma história dum companheiro argentino que morou em Espanha e trabalhou na colheita de melão em França. Percebi ( ou confirmei) que os velhos mecanismo de exploração e mão de obra barata ainda vigoram, mesmo na La Republique de la France. Oh lá lá! C'est chien, quand même! Enfim... Quem diz na La France, diz em outro país europeu, principalmente estrangeiros ou quem está tentando sobreviver à crise financeira e ao desemprego. Agora não vou falar do neo deslumbramento dos brasileiros em relação a Portugal, se não lá se vai a meditação de budismo zen que pratiquei logo pela manhã. Fica para outro momento quando esse assunto não for uma remela no terceira olho.

Quem gosta de ser explorado? Quem gosta que não valorizem o seu trabalho duma forma digna? E antes de tudo e mais o quê de ideologias e ismos, a questão está na humanidade, justiça, respeito para quem trabalha e ao limite trabalha para nós. Como o cantor canta: quem não gosta de samba bom sujeito não é. E eu acrescento: quem não valoriza e respeita o trabalho do outro bom sujeito também não é. 

Vão-se os ismos fique o coração, a alma e o espírito livre.
Agora vou tocar uma guitarrada com o clarinete.
Chauuuuuu

Ah! E os komunas já passaram à história, mas os povos nativos e os camponeses são gente. Só para não esquecer de lembrar.

A Piu
Brasil, 3008/2018
Nesta foto poderia estar a minha avó materna, mas Cuba do Alentejo é no Alto Alentejo e ela era do Vale de Santiago, perto de Colos onde está hoje o projeto Tamera de permacultura. Mal sabia o Tonecas Salazarudo que Cuba uns anos mais tarde iria  dar no que deu. Mas ele queria o seu povo orgulhosamente só e de preferência analfabeto como o seu amiguinho Mussolini lá da Itália. Olhando bem , mas muito bem viemos quase todos domesmo saco de farinha. Os nosso avós eram explorados e passavam sérias dificuldades, principalmente naqueles obscuros anos 40, e muitos tiveram de migrar. Então essa de ser descendente de europeu no Brasil para se distinguir dos demais além de cafona não honra os seus ancestrais.
A obra percorre uma zona do Alentejo caracterizada pelo latifúndio, desde o final do século XIX ao período pós 25 de Abril. Durante a escrita da obra Saramago viveu na vila do Lavre, situada na fronteira do concelho de Montemor-o-Novo com o de Coruche.


Nesta obra Saramago retrata a luta de um povo face às forças opressoras (os latifundiários, as forças da ordem e a Igreja). Luta obstinada e de muitos sacrifícios, feita sobre um ambiente de miséria rural. É uma fotografia do movimento antifascista no Alentejo, no qual Saramago revela bem as suas opções políticas.

Sem comentários:

Enviar um comentário