quarta-feira, 29 de agosto de 2018

(DES)MATOGROSSO

autoria: Manoel de Barros


O regresso a Cuiabá, após 18 anos, ainda reverbera. Foi lá que dei à luz e nessa mesma época da minha trajetória artística viajei pelo Estado do Matogrosso apresentando um espetáculo de teatro com a minha trupe  e dando oficina de improvisação e iniciação à máscara.

Não só pelo Matogrosso, como pelo Brasil, sinto um imenso afeto e carinho. Tem coisas que até hoje não entendo. Por exemplo: de quando em vez estigmatizarem-se o estrangeiro (normalmente quem não é Europeu da França para cima ou o latino americano e todos os que sejam negritos ou não ostentem status e dinheiro) , sendo que o povo brasileiro é feito de milhares de pessoas de todas as partes do mundo que muitas chegaram aqui em condições deploráveis e assentaram sem pedir licença. Ainda escarnecendo dos povos originais que já aqui viviam e dando continuidade a um projeto que o meu povo ancestral iniciou. Como portuguesa, sinto muito que esse projeto de ganância e extermínio tenha acontecido e ainda sinto muito mais aqueles que continuam, muitas vezes com um discurso que eles foram os colonizados. Ué! Eles, os próprios,  ou são descendentes dos colonizadores ou passaram a serem os colonizadores. Existem muitos oprimidos que sonham em serem os opressores. Oh se existe! Na entrada/ saída de Cuiabá vê-se uma placa sobre a rodovia: Cuiabá cidade do agronegócio. No meu ponto de vista, além de impactante é triste. Dizer que não gosto de carne seria uma bela duma mentira. Dizer que não como carne de quando em vez seria uma hipocrisia arrepiante. Mas o meu projeto, a minha meta a curto/ médio prazo é deixar totalmente de comer carne por posicionamento político. O agronegócio destrói a natureza, despeja, mata milhares de pessoas, trata os animais duma forma cruel e o 'primeiro mundo" compra essa mesma carne. O agronegócio é somente negócio, como o próprio nome indica, em função do lucro de uns tantos. Ah! E sabiam que um camioneiro/ camionista quando transporta carne, durante várias horas dum Estado para o outro, não pode descansar, ao invés de quando transporta verduras, fruta? Isto porque a carne é mais cara...
Enfim... Não é uma questão nacional e sim internacional. Cada um e cada uma de nós terá de colocar a mão na consciência e ter a coragem de mudar de hábitos e padrões comportamentais. Ter conceitos e defender causas é muito fácil, o desafio é colocá-las em prática.


A Piu
Brasil, 29/08/2018

Sem comentários:

Enviar um comentário