terça-feira, 20 de julho de 2021

ENCONTRÕES DE 3° GRAU ENTRE O VELHO E O NOVO MUNDO


 Dizem e vê-se por aí que cócoras é das posições mais antigas que atravessam o homo sapiens do globo terrestre inteirinho. Uma posição que serve para descanso em prontidão, para evacuar as necessidades fisiológicas e também para parir. Sim, esta é a posição mais orgânica para dar à luz um ser humanizante.

Os, as ou seres humanizantes da terra redonda além de descansarem, comerem, beberem, evacuarem e algumas parirem sentem alegria, tristeza, medo, raiva, amor, confiança, desconfiança, são humildes,arrogantes, adormecidos ou mais despertos. Independentemente da pigmentação, etnia. sociedade, cultura, comunidade nós somos todes iguais e todes diferentes. Por isso, é muito bom nós termos a possibilidade de ir e vir, de querer conhecer outros mundos e outras gentes para lá da nossa bolhinha, ideias feitas, preconceitos e crenças limitantes.

Em criança, quando íamos à praia no sul de Portugal, Algarve, eu perguntava a esse sujeito de jeans que é o meu pai, o que ficava do outro lado do mar. E a resposta chegava assim, estimulante e também intrigante: " África. E se esticares bem o pescoço consegues avistar a savana com girafas, elefantes e leões. " Nunca consegui avistar à distância esse zoo no habitat natural, mas nunca precisei de esticar o pescoço para avistar pessoas que nasceram no continente africano, pois muitas viviam e vivem em Portugal. Não as conheço todas, mas algumas são minhas amigas desde a mais tenra idade.

Uma criança quando nasce não é racista, mas pode-se tornar se o meio que a rodeia for altamente tóxico. O mesmo se passa com xenofobia. Xenofobia é aquela fobia ao ( aparentemente) diferente como se quem estivesse na nossa frente fosse um E.T.

O sonho do meu avô, um homem simples de origens humildes, era que os seus três netos fossem para a marinha. Nenhum foi. E eu, como neta, não fazia parte desse seu almejo, mas recebi muitos elogios por saber colocar pratos e talheres em cima da mesa... Mal sabia ele 'ca' sua netinha também sabia virar a mesa.

Outro dia escutei algo muito bom dumas mulheres brasileiras que fazem um trabalho muito inspirador sobre autonomia feminina, que nada tem a ver estar contra os homens: Nós mulheres não queremos fazer xixi de pé como alguns homens. Imaginem a bagunça! Queremos sim não ter que repetir sete vezes que queremos ser respeitadas e ter igualdade de direitos. 

Óbvio, minha boa gente! Mas eu ri por dentro, porque essa mocinha que veem aí na foto com umas antenas de ET tentou várias vezes fazer xixi de pé como a rapaziada. A sorte é que não molhava os pés, porque sempre trazia umas traineiras chamadas botas ortopédicas, como se pode ver na foto. 

Na época dessa foto estreou um filme: Encontros de terceiro grau, assim como nessa época as mentalidades estavam-se a abrir. Nos idos anos 70. E as mentalidades abrem-se gradualmente. Bem sei que o povo português não é dos mais emancipados do mundo, mas mesmo assim no momento em que me encontro considero que fazer a minha parte, além de escutar e estar do lado de povos e culturas secularmente oprimidas, primeiramente pelo meu povo e perpetuado pelo brasileiro até hoje, é também meu dever honrar o meu povo que não é feito só de reacionários e que também foi silenciado pelas oligarquias do meu país. E que enxergar os portugueses todos como reacionários achando que se está a defender uma grande causa, mas sonha viver em Portugal porque é Europa também está a ser reacionário. Isto no meu ponto de vista, claro, que está aberto a escutar e observar novas formas de nos relacionarmos sem preconceito. Mas uma coisa eu fico sempre com uma grande interrogação na cabeça: Qual o conhecimento mínimo da luta dos trabalhadores portugueses, das crises económicas do país, da cultura portuguesa que tem a pessoa brasileira, principalmente branca de origem portuguesa  

Fico realmente intrigada... Pessoalmente eu não escolheria uma cidade ou um país que achasse que todos ou quase todos fossem lerdos e reacionários, colonialistas vá... Para ir direito ao assunto. E se a pessoa defende tanto o povo oprimido brasileiro há tanto a fazer nesta terra.Para quê ir embora, já que defende ninguém largar a a mão de ninguém? A diversidade cultural, artística, de pensamento é tão grande que é deveras mais estimulante do que ir para o "meu" paízinho à beira mar plantado com as suas gentes, também generosas, acolhedoras com a sua cultura popular mas mais travadinhas e também preconceituosas aqui e ali. Eh pá! Há gente fixe bacana em toda a parte do mundo. E lá está, para migrar é preciso peito, coragem, motivação. Se o lugar não nos faz feliz e não nos identificamos com as pessoas nem nos damos ao trabalho de conhecer pessoas que não são reacionárias o que  estamos a fazer nesse lugar? Ou achamos que a nossa missão é enfiar o dedo na cara de  pessoas que nem conhecemos? Sim, Portugal tem uma dívida histórica para com os povos africanos e indígenas, mas isso não significa que somos todos uns brutinhos, lerduchos e não conhecemos a História, porque afinal de contas muitos que votaram neste Coiso aí agora moram em condomínios fechados em Portugal, coisa que nem existia. Será que eles também levam a criadagem daqui ou contratam por tuta e meia em Portugal? ...dasse... Bora lá ter consciência de classe e estudar História com profundidade e relacionarmos-nos sem atitudes preconceituosas o tempo todo. Não significa que o preconceito não exista de parte a aparte, mas já é tempo de cada um fazer a sua parte e se auto observar.  E já agora honrar os seus antepassados que emigraram para o Brasil com uma mão à frente outra atrás, muitos despolitizados e que por isso viraram novos ricos com síndrome de cafonice, além de desdenharem e escarnecerem do seu próprio povo.

A Piu

Campinas SP Brasil 20/07/2021  

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