Nosso pensamento fica emaranhado com palavras sobre garimpeiros que comem a terra da floresta e sujam nossos rios, com palavras sobre colonos e fazendeiros que queimam todas as árvores para dar de comer a seu gado, com palavras sobre o governo que quer abrir nelas novas estradas e arrancar minério da terra. (...) Os jovens passam o tempo todo jogando futebol na praça central da casa, enquanto os xamãs estão trabalhando ali ao lado. (...) O pensamento desses jovens ainda está obstruído. Por mais que tentem imitar os forasteiros que encontrem, isso nunca vai dar nada de bom. Se continuarem nesse caminho escuro, vão acabar só bebendo cachaça.
Os maiores não pensavam nem um pouco nessas coisas de branco. Hoje, nossos olhos e nossos ouvidos passam muito tempo dirigidos para longe da floresta, alheios a nossos próximos.
As palavras sobre os brancos emaranham as nossas e as deixam esfumaçadas, confusas. Isso nos deixa aflitos Tentamos então afrouxar nosso pensamento e tranquilizá-lo. Dizemos a nós mesmos que os xamãs irão nos vingar contra as doenças dos brancos e que não morreremos todos."
Davi Kopenewa e Bruce Albert " A queda do Céu, palavras de um xamã yanomami" Companhia das Letras.SP: 2010. (págs. 226/227)

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