Arretung
De origem germânica achtung! servia como interjeção chamativa para perigos e paisagens deslumbrantes. Mais a norte, nos países escandinávos,ACHTUNG!! é considerado o espirro oficial dos vikings. Em terras lusas utiliza-se a expressão "Arre!!" quando alguém está arreliado. "Arretung!" é uma espécie de grito de guerra dos trabalhadores da classe precária, que desunidos nunca vencerão.
terça-feira, 25 de abril de 2023
OS MENINOS DE AMANHÃ EM GRÂNDOLA VILA MORENA- 25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!
segunda-feira, 30 de janeiro de 2023
EXISTIR É UMA AUDÁCIA série: aprender a aprender
O episódio da ativista e atriz trans Keyla Brasil fez-me refletir e procurar mais informação sobre a causa trans no especifico, como a causa LGBTQ+ no geral. Não é que não acompanhasse. Pelo contrário, existem vários documentários disponiveis onde se pode escutar e testemunhar esses sujeitxs históricxs na primeira pessoa. Aliado ao facto de conhecer várias pessoas de distintos géneros e orientações sexuais por circular no meio artístico, principalmente no teatral.
O que me chamou mais a atenção foi a Keyla mandar um ator cisgénero sair do palco porque ele era um transfake, desrespeitava o palco - que é sagrado -logo a causa trans ocupando o lugar que estas deveriam estar. Aqui temos uma questão que eu entendo e sou totalmente solidária: as trans como todas as pessoas que não são cisgénero ou que são mas por motivos de cor, raça não existe por ser uma construção social, de classe social ou por serem mulheres, mães, mães solo a sua visibilidade muitas vezes está compromotedida, logo a sua existência. Sim no caso as trans, como toda gente, tem diretito ao acesso à saúde, educação, mercado de trabalho e à integridade física e moral. O que nem sempre é assim... Elas, as trans, devem ter espaço e condições para contar as suas narrativas e serem respeitadas e não terem que recorrer à prostituição que por vezes é o que resta por falta de acesso às oportunidades de trabalho por puro preconceito. No fundo todos nós queremjos ser respeitadxs. O respeito é uma negociação entre direitos e deveres de todas as partes.
Eu, como mulher, artista, mãe solo, cidadã quero ter a liberdade ( e luto por ela) de viver da forma que eu bem entender sem prejudicar xs outrxs e poder entrar em cena com as personagens que eu bem entender com base no estudo, na pesquisa dessas mesmas personagens que podem revelar muita coisa de mim e desconstruir ideias que eu tenha acerca de quem sou eu de que é isto ou aquilo. Porque não eu ir para cena encaranando uma trans que um dia foi um homem que não se sentia bem naquele corpo e encontrou no seu atual corpo a sua verdadeira essencia e liberdade de ser quem é?
Ser ator ou atriz não será também nos colocarmos no lugar dxs outrxs abrindo horizontes para nos revelarmso para nós mesmxs e para o mundo? Desde que não caricature essas pessoas, reproduzindo estereótipos que as coloca no lugar de distância porque é que eu hei-de ser interrompida e censurada por estar em cena encarnando uma realidade que aparentemente não é a minha? E também sendo solidária à causa trans a partir da minha existência.
É lamentável que a Keyla esteja a sofrer de ameaças de morte, ataques xenofobos e transfóbicos pelo sucedido. Espero que ela encontre uma boa rede de apoio e proteção e que continue com a sua luta por visibilidade sem autoritarismo. Acredito que ela entenda percebendo pelo audio educado e com amorosidade que me enviou, só posso desejar a todxs nós: DITADURA E CENSURA NUNCA MAIS! VIVA A LIBERDADE E ABAIXO O PATRIARCADO, O NEO LIBERLISMOS E A MERITOCRACIA!
Isso é possível? Cada um que faça a sua a parte tomando consciência de quem é, do lugar que ocupa na sociedade e como se relaciona com a força da existência e do trabalho dos demais.
A Piu
Campinas SP 20/01/2023
sábado, 28 de janeiro de 2023
EU FALO E ESCREVO A PARTIR DE MIM série: aprender a aprender
sexta-feira, 27 de janeiro de 2023
É P'RA RIR OU É P'RA CHORAR? - série: sorria! você está sendo imaginado!
Por acaso até nem acho piada nenhuma aquela das portuguesas terem bigode, porém trouxe essa piada para mim e este é um dos resultados. Acredito que eu não seja a única, nem tenho essa pretensão. Quanto mais formos a desconstruir esterótipos, escárnios e preconceitos mais ondulante o mundo se torna. Donde vem esse esterótipo? Primeiro: normalmente as mulheres com "bigode" ( penugem farta) são oriundas de contexto rural, independentemente da nacionalidade. Elas são italianas, russas, alemãs, portuguesas, espanholas, etc e etc. Será a alimentação aliada ao facto de em muitos casos não lhes ser permitido cuidarem delas mesmas? Eu conheci casos desses: o marido proibir a esposa de cortar o bigode... E ela, às escondidas, cortar com a faca das couves. É dum risivel constrangedor. As mulheres serem obrigadas a se embrutecer por ordem de terceiros. Mulher é para ficar em casa a cuidar o marido e dos filhos e não precisa de dar nas vistas nem ser objetop de desejo de terceiros. É assim e mais nada!
Para mim a expressão artística serve justamente para desconstruir o que está tão enraizado, nomeadamente a autonomia do nosso corpo e da nossa libido que somente a nós nos diz respeito. O que é viver no patriarcado senão uma série de imposições, distorções do masculino e do feminino onde a conquista de territórios, corpos, força de trabalho são o mote há milhares de anos aliado à competição e ao corpo e desejo objetificado. Precisamos juntes de refletir sobre isso e cada uma, ume, um que se descubra para si mesme, que se desnude das máscaras sociais e dos exibicionismos gratuitos que subscrevem o que já está aí, onde a competição e as comparações de quem é melhor ou pior, bem sucedido ou não, de mais gostosude ou não, com mais seguidores ou não.... Ufa! Que canseira. A mediocridade desvia-nos do essencial que é sermos nós mesmes e buscar xs nossxs parceirxs e desencanar, mesmo que seja dificil, de quem não nos dá a mão e não se solidariza com a nossa existência.
Deixo aqui este manifesto que deixei em comentários, nomeadamente do Jornal de Noticias e da Keyla Brasil, enviando para a mesma no privado e para o actor André Patricio. Da Keyla recebi um audio educado falando da importância de eu me manifestar diante do ocorrido e desejando tudo de bom, do André recebi um joinha. Pronto, é isso. Para bom entendedor meia palavra basta, porque é recorrente observar quando alguém que lê algo não concorda porque abana com as suas certezas chamar a outra pessoa de confusa, diminui-la digamos. Já me aconteceu isso uma ou outra vez e já estou preparada. Não sou dona da verdade, mas atirar areia para os olhos não vale, muito menos diminuir. Valeu Keyla por responder educadamente, espero que a sua luta continue sem agredir trabalhadores da classe artistica e afins:
" Há uma questão que está na ordem do dia, principalmente depois da invasão de bolsonaristas ao Planalto Central destruindo várias obras de arte. Esse ato de invasão e destruição, de desrespeito para com artistas e democracia hoje considero ainda mais fascista mesmo que a causa base seja pertinente e urgente ser olhada com ações de inclusão, no caso a LGBTQ+. O André não é um transfake É UM ACTOR. UM TRABALHADOR. Merece respeito. E nós como artistas temos o direito, a liberdade de encarnarmos quem quisermos e sermos tratadxs com respeito, dignidade. Existem trans autoritários e que se acham no direito de interromper um TRABALHO e mandar o ator sair(!!!??). Essa mesma trans talvez se fizesse isso aqui no Brasil, no país dela, sofresse graves riscos de vida. Ela tem o direito de se manifestar e ser incluída mas não desta forma que arrisco em dizer que é bolsonarista e ataca a classe artística que muito provavelmente nem conhece as suas lutas e sobrevivências. Como virou moda chique morar em Portugal muitxs brasileirxs nem se dão ao trabalho de saber e conhecer para onde vão e tentam atingir "o elo mais fraco". Aquele é somente um trabalho e a decisão de substituição é delicada, mas ao mesmo tempo humilde e corajosa embora seja questionável ser se subserviente a uma violência simbólica e autoritária desse teor. A comunidade LGBTQ+ que se una ainda mais e crie parcerias saudáveis com quem não é LGBTQ+. Não somos obrigadxs a ser humilhadxs principalmente quando somos solidários à causa. Bom senso e sensibilidade é transversal aos gêneros e exercita-se. A minha solidariedade para com o ACTOR, OPERÁRIO DA ARTE André. Patricio."
A Piu
Campinas SP 27/01/2023
quinta-feira, 26 de janeiro de 2023
ONDE COMEÇA A MINHA LIBERDADE E ACABA A DO OUTRE? - série: sorria! você está sendo imaginado!
Eis-me aqui na cidade de Évora, um dos berços da minha formação como actriz ou atriz ou atroz. Estamos no ano da graça do senhor de 2000 e este espetáculo " El Cubo" é de minha autoria e investimento financeiro, eu tirei do meu bolso para pagar a direção do Juan Ramon Urtera. Pois, de vez em quando para continuarmos o trabalho que para nós faz sentido fazemos dessas coisas. Mesmo assim prefiro pagar o meu trabalho do que ser desvalorizada e explorada por terceiros ou participar de trabalhos do quais eu não acredito que no rol vem as telenovelas ou determinadas abordagens teatrais que considero obsoletas com todo o respeito por quem as exerce. São escolhas e todas elas teem um preço.
Este personagem, como muitos tantos, que tenho interpretado desde o inicio da minha trajetória artistica e profissional que remete ao inicio dos anos 90 é andrógino. Isto é, um personagens que apresenta caracteristicas, traços ou comportamentos que transitam em que é considerado feminino ou masculino. Algo indefinido entre esses dois conceitos. Na vida do dia a dia também sou, de certo modo assim embora até ao momento me considere uma mulher cisgénero heterosexual. Isso não me faz nem mais nem menos que outras pessoas com outras orientações sexuais. Como teatreia sempre tive colegas e amigos de distintas orientações. Aliás, o meu grande amigo de infância na escola era o Pedro, um menino efeminado com humor que quase ninguém nos segurava na risota durante as aulas até sermos separados. Cresci entre rapazes, sendo a única menina da família e da meninasa que brincava na rua naqueles finais de anos 70 e inicio de 80 num Portugal já democrático onde algumas meninas, como eu, não tinham as orelhas furadas à nascenças nem usavamso lacinhos e folhinhos e sim roupa unisex ou vestidos e saias para rodar e rodar e rodar com a inocencia de sermos crianças e não objeto de desejo de adultos de mente adoecida.
Durante os ensaios deste trabalho eu engarvidei e cheguei a apresentar grávida, quando a barrigota era discreta. Construi este personagem, que é uma moradora de rua com os seus sonhos e delirios poéticos e desejos de consumo e conforto que lhe é negado. Eu nunca morei na rua, embora já tenha dormido na rua nessas viagens de mochilão por cidades da Europa do Leste, assim como pelas praias da Andaluzia no sul da Espanha. Ser roots não é o mesmo que ser morador de rua, vamos combinar. Assim como ter um lado androgino não me faz negar o facto de ser mulher. Por ser atriz, e ter investido nessa formação eu considero que tenho a liberdade de interpretar toda e qualquer personagem, obviamente sem apropriações. Eu não vou pintar o rosto de negro para fazer de negra. São principios éticos. Também não me vou fingir de homesexual no dia a dia para ser aceite por determinada comunidade ou por que acho que é moderno. Justamente por respeitar quem tem outras orientações.
Bom, no próximo texto escreverei sobre um ocorrido polémico duma atriz trans brasileira que invadiu um palco duma peça de teatro em cena em Lisboa chamando um ator de transfake e mandando-o sair do palco. Enfim, parece que se instalou a prática de se invadir e desrespeitar a democracia, os artistas trabalhadores e suas obras, neste caso por uma causa que considero nobre que é a LGBTQ+. Como cantava o querido conterrâneo Sérgio Godinho: " O fascismo é uma minhoca que se infiltra na maçã ou vem com botas cardadas ou com pezinhos de lã."
A Piu
Campinas SP 26/01/2023
terça-feira, 24 de janeiro de 2023
BONITO SER VICIO! - série: sorria! você está sendo imaginado!
sábado, 21 de janeiro de 2023
OS TAIS MINUTOS DE FAMA NA ERA DA INTERNET- série: sorria! você está sendo imaginado!
Onde é que eu estou, ãh? Quem adivinhar ganha uma caneta bic com tinta permanente. Por falar nisso! Quem é que ainda se dá ao trabalho de escrever à mão na era do digital onde tudo se registra, desde o prato de comida aquele bejinho maroto na gatinha ou no gatinho que se acabou de conhecer numa qualquer aglomeração pós confinamento? Aí a pessoa vai colocando um monte de informação acerca da sua vida privada mas que num estalinho de dedos pode-se tornar efêmera e a mesma precisa de se justificar diante dela mesma e da plateia quando três meses antes estava numa relação sólida e super amor da vida dela e de repente ou quase de repente, a coisa não corre assim tão happy end porque afinal se estamos vivxs não há happy endes e sim caminhadas, construções, desconstruções de (auto) relacionamentos. Amadurecimentos para quem se propõe a isso.
Para mim as redes sociais, como tudo na vida, é para estar ao nosso serviço e não o contrário. Sermos tomadxs pela super exposição que alimenta somente o ego e o voyerismo é como nos propormos ao jogo do Big Brother só que virtualmente e numa escala aparentemente menor, muitas vezes sem ter a verdadeira noção do impacto que é expor alguém ou nos expor quando provavelmente a base não é sólida,porque quando é sólida não precisamos de anunciar ao mundo que fazemos e acontecemos com determinada(s) pessoa(s). Simplesmente vivemos, apreciamos a convivência sem fazermos da nossa vida uma noticia da revista Caras. Um alarde constante para solicitar curtidas, likes. Obviamente que isto é uma opinião. Cada pessoa vive do jeito que quer e usa as redes sociais do jeito que bem entender desde que não prejudique terceiros. Seja vaidosa das suas conquistas desde que não aja com precoinceito e desdém com os demais. Anuncie que agora esá na Europa mesmo que seja um cantinho de Portugal esquecido chamado Cagarelhos de Baixo ou na India num retiro espiritual, mesmo que a sociedade indiana seja fortemente marcada por castas e duma desigualdade social constrangedora perante tanta espiritualidade turistica namaste gourmet. Sim, é um provocação porém nada que não traga no coração há muito. Onde há ego inflado e desigualdade social onde é que reside a revolução social e a espiritualidade libertadora?
Para os curiosos: estou no MASP, Museu de Arte de São Paulo, numa terça em que é gratuito para o povão e é lindo testemunhar vários visitantes de cores e feitios fazerem fila para entrar e onde poderão apreciar obras nomeadamente do Portinari ao invés de esfaqueá-las como os fascistazinhos que nem nos EUA são bem vindos depois do que fizeram no Planato Central. Como é lindo o mundo, mesmo assim, baixar a bola a esses criminozinhos birrentos que desrespeitam a sua própria Constituição e manifestam a sua boçalidade na plenitude. O que aconteceu em 8 de janeiro de 2023 em Brasilia é uma canetada a tinta permanente que depois dessa sermos éticos uns com os outros além dum direito é um dever.
A Piu
Brasil, 21/01/2023